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terça-feira, 10 de novembro de 2020

Política: Futuro dos sindicatos está na digitalização?

 


Não há dúvidas do quanto este ano está sendo um divisor de águas para a transformação digital 

*Marcelo Machado

A pandemia mudou a forma como nos relacionamos. Familiares aprenderam a expressar suas emoções à distância, empresas estabeleceram um novo diálogo com os trabalhadores por meio de reuniões virtuais e até mesmo happy hours online surgiram para trazer descontração a tempos tão tensos. Os sindicatos já vinham buscando meios de se aproximar do trabalhador, de suas dores e alegrias do dia a dia, mas ainda prevalecia uma certa sensação de distância – ou, melhor, de que ainda era possível melhorar essa relação.

Não há dúvidas do quanto este ano está sendo um divisor de águas para a transformação digital de muitos setores. Com os sindicatos, não seria diferente. Especialmente nos primeiros meses de pandemia, em que a paralisação de bares e restaurantes foi quase completa e a orientação era para que todos saíssem de casa o mínimo possível, como manter o diálogo vivo entre a categoria, observar o cumprimento de direitos e solucionar possíveis impasses? O sindicato precisou se reinventar, do analógico para o digital.

Em plena pandemia, o Sinthoresp (Sindicato dos Trabalhadores de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de São Paulo e região) estava a todo vapor com uma de suas campanhas de maior êxito. A Trabalhou Tem Direito, resultado de um acordo judicial com a Arcos Dourados, operadora do McDonald's, ainda precisava localizar metade dos 7 mil ex-funcionários da rede de fast-food que tem direito ao pagamento do PPR (Programa de Participação nos Resultados) proporcional ao período trabalhado. Sem as estratégias virtuais, isso seria quase impossível.

Sabendo do desafio que tínhamos pela frente, lançamos mão de diversas frentes para chegar até esses trabalhadores: publicações em redes sociais, assessoria de imprensa para divulgar a pauta junto aos jornalistas, a exemplar atuação do Jânio pelo WhatsApp, na linha de frente de diálogo com os trabalhadores. Além disso, criamos um site oficial para a campanha, com um formulário que permitiu facilitar a análise dos dados dos beneficiários. Todo esse trabalho de marketing digital tem levado a campanha a outro patamar – em média, 30 novos trabalhadores são localizados por mês!

Outra novidade importantíssima no meio sindical são as assembleias virtuais. A pandemia impossibilitou que elas fossem realizadas presencialmente nas empresas ou na sede do sindicato. Sabemos o quanto as demandas trabalhistas aumentaram nesse período, então não podemos paralisar as atividades. Para isso, o Sinthoresp reorganizou seu setor de atendimentos em home office, criou uma plataforma única para a realização de assembleias virtuais – uma delas chegou a reunir mais de 4 mil trabalhadores – e estamos cada vez mais empenhados nas lives, trazendo assuntos de interesse para o trabalhador, inclusive com orientações sobre saúde e segurança diante da volta às atividades.

A transformação digital é um caminho sem volta e os sindicatos devem estar atentos às novas tendências. A necessidade de amparar o trabalhador nunca irá mudar, mas, para que esse trabalho seja realmente efetivo, é preciso encontrá-lo onde ele estiver – e a internet ajuda nessa busca. Acredito que caminhamos para um modelo de atuação híbrido, com atendimentos presenciais, sempre de portas abertas para receber o trabalhador, e com a possibilidade de resolver demandas de forma online, sem precisar sair de casa. Afinal, é assim em diversas outras áreas da nossa vida moderna. O mais importante é nunca perder de vista o papel do sindicato, nosso propósito. Com isso alinhado, a forma de se comunicar pode continuar em constante evolução.

Marcelo Machado é advogado responsável pelo departamento de TI do Sinthoresp (Sindicato dos Trabalhadores de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de São Paulo e região).

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