Pesquisas apontam maior interesse do público feminino no empreendedorismo
Dora Ramos
Estudo recente da consultoria McKinsey apontou que 39% da população economicamente ativa é dona do próprio negócio. Os dados apontam que o empreendedorismo tem despertado mais interesse das mulheres. E as mulheres empreendem por necessidade em maior número também.
A proporção de “Empreendedores Novos” - os que têm um negócio com menos de 3,5 anos - é maior entre as mulheres: 15,4% contra 12,6% de homens. O estudo constatou ainda que as representantes do sexo feminino empreendem movidas principalmente pela necessidade de ter outra fonte de renda, ou de adquirir independência financeira.
Como empreendedora à frente da Fharos Contabilidade há 30 anos, aos 25 anos de idade, não foi diferente. Na juventude, soube o que era a necessidade de buscar mais renda e a dificuldade de viver na Inadimplência. Hoje, oriento pessoas a como equilibrarem suas finanças e a maneira de lidar com seus recursos. Abrir meu próprio negócio era a realização do sonho de ter uma empresa e de ser independente.
Foquei meu serviço de contadora em aprender como lidar com as pessoas. Nos cursos que fiz, era a única contadora em meio a muitos terapeutas e psicólogos. Acabou sendo um diferencial. Contudo, até chegar ao reconhecimento, enfrentei preconceitos variados.
Vim de família humilde. Comecei ganhando confiança através de indicações dos clientes. Buscava prestar um serviço diferenciado. E, sendo mulher, havia quem questionasse a minha figura à frente da empresa. Existia a questão de ser uma mulher negra. Perguntavam: “Quem é o homem que manda aqui?”. Minha resposta era simples e sarcástica: “Está olhando para ele!”
Como contadora e consultora das empresas, há um constante envolvimento com todos os processos. Pensei muito mais na consultoria, do que na contabilidade pura e simples. Sempre entendi a contabilidade como sendo um braço de apoio.
Comecei trabalhando em empresas contábeis durante o dia e como contadora do meu próprio negócio à noite. A decisão acertada veio no reconhecimento do atendimento, voltado para o lado humano. Fazia cursos diferentes, ligados ao trabalho, que pudessem me aproximar do cliente, de maneira a apoiá-lo no seu negócio. Ainda hoje, alguns clientes não estão acostumados com isso. Acham que o contador trabalha para o governo, emitindo impostos que você precisa pagar.
Nem todas as pessoas sabem, mas a rotina da área de Contabilidade é bastante intensa e requer foco. É necessário estar bem mentalmente para lidar com as pessoas de maneira clara, e buscar complementações voltadas para isto.
Me orgulho de nunca ter desistido, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas e da vontade de querer fazer dar certo. Acredito que sou completamente “fora da curva”. Meus pais eram semianalfabetos. Minha mãe aprendeu a ler com 55 anos. Como filha mais velha, precisava mudar a nossa realidade através da minha própria ação.
Como todos os milhões de brasileiros atualmente, enfrentei os ditos "perrengues" financeiros nos anos em que ainda estudava para me tornar profissional. Vivenciei a inadimplência. Dava um jeito para pagar e pegava dinheiro emprestado. Cheguei a ver meus pais vendendo as alianças deles, para terem dinheiro para custearem minha faculdade. É um gesto que me marcou e que foi muito forte. Lembro também que obtive grande auxílio financeiro da faculdade que estudava e fui reconhecida pelo esforço. Sabendo que não tinha dinheiro para a rematrícula, me ofereceram ajuda para terminar meus estudos.
Em razão dos avanços no mercado de trabalho, estão surgindo grandes oportunidades no cenário atual. O número de mulheres que investem e empreendem cresce cada vez mais. Não só no Brasil, mas em boa parte dos países, o nível de conhecimento financeiro das mulheres ainda é bem inferior, quando comparado ao dos homens. Todavia, só aqui no Brasil, de 2002 a 2017, o número de investidoras na Bolsa de Valores, por exemplo, subiu de 15 mil para 141 mil.
De 2013 a 2019, o número de investidoras no Tesouro Direto dobrou. De 80,5 mil para 155,5 mil, o que significou um avanço de 93,1%. E como empreendedoras, as mulheres estão em maior número nos setores de comércio, indústria e serviços, sendo a maioria entre novos empreendedores. Segundo a pesquisa GEM Brasil (Global Entrepreneurship Monitor) de 2015, mulheres já abriam novos empreendimentos em mais número que os homens. Mulheres estão trabalhando e empreendendo mais, encontrando caminhos para poderem existirem formalmente e conquistando espaços como líderes.
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