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terça-feira, 22 de outubro de 2019

Chumbo Quente: Medicina, cidadania e civismo


Afinal, todos certamente concordamos que os médicos são absolutamente indispensáveis para garantir a boa saúde dos cidadãos

*Antonio Carlos Lopes
Na sexta-feira, 18 de outubro, houve, por todo o Brasil, comemorações ao Dia do Médico. Até o Congresso Nacional realizou sessão solene, com a participação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para destacar a data e homenagear os profissionais de Medicina. 


Nada mais justo. Afinal, todos certamente concordamos que os médicos são absolutamente indispensáveis para garantir a boa saúde dos cidadãos, para ajudar na cura, quando necessário, e ainda para salvar vidas em momentos agudos.  

Os médicos brasileiros, é mister frisar, cumprem bem seu papel. Aliás, o que existe de melhor em nossa Medicina é reconhecido mundo afora. Temos certos profissionais e especialidades que inclusive são vanguardistas em descobertas de técnicas e tratamentos. 

Agora mesmo vimos o caso de um concidadão com câncer terminal, recebendo alta após terapia genética pioneira obter sucesso pela primeira vez na América Latina. Pesquisa da USP-Fapesp criou método 100% nacional para aplicar técnica norte-americana CART-Cell, abrindo uma perspectiva de existência alvissareira para esse homem que tinha linfoma e tomava morfina todo dia.  

Essa é a faceta admirável de nossa profissão, a que incentiva e emociona. Há, contudo, um outro lado da força: são as dificuldades e mazelas que os médicos do Brasil encontram no dia a dia, para que cumprir dignamente seu ofício, assim como o Juramento de Hipócrates.  

Os salários na rede pública são aviltantes. Desrespeitosos para quem chegam a estudar até doze anos para exercer a Medicina, sem contar a atualização necessária pela vida inteira, para cuidar adequadamente dos pacientes.  

O sistema apresenta mais percalços. Os médicos esbarram na falta de estrutura de hospitais e prontos-socorros, no sucateamento das unidades de atenção primária, na falta de equipamentos e medicamentos. Vários só levam adiante sua carreira à base de obstinação e de amor ao próximo.  

Na saúde suplementar, o quadro é igualmente tenebroso. Há planos e seguros pagando aos médicos menos do que um guardador de carros recebe para olhar um só veículo na rua. Para piorar, esses grupos fazem pressões para a redução do pedido de exames, para antecipar altas, entre outras – uma vergonha.  

São planos que enfiam a faca em você e tiram o sangue do médico, como diz uma campanha de mídia da Associação Paulista de Medicina e de sociedades de especialidades, como a Clínica Médica, de anos atrás.  

Para piorar, hoje cria-se uma faculdade de “Medicina” a cada esquina, a maior parte delas só visando o lucro. Claro que a tendência é de formação insuficiente, o que pune aquele que sonha em ser médico, além de representar perigo à população.  

Lembro, por fim, que somos obrigados a viver em guarda para garantir que nossos pacientes não serão lesados. Um exemplo são as seguidas tentativas de governos de abrir as fronteiras do País a profissionais graduados fora, sem que eles passem por exame de revalidação de diploma, para comprovar que realmente podem ser chamados de médicos e que têm formação adequada para atender a nosso povo.  
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Medicina, cidadania e civismo caminham juntos. Os médicos brasileiros, em regra, cumprem bem esses três quesitos. Parabéns a todos.  

*Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica 

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