Redação
O filme, que se ambienta numa São Paulo fictícia, tematiza o racismo numa sociedade invertida, onde brancos são marginalizados e negros detêm posição privilegiada
Em “Mundo Deserto de Almas Negras”, Oscar é um jovem e bem sucedido advogado da elite paulistana. A pedido de um misterioso cliente, ele aceita entregar celulares para membro de uma facção criminal dentro de um presídio. Porém, quando tem sua carga roubada, passa a ser perseguido pelos perigosos contratantes.
Apesar do que sugere , não se trata de mais um filme de ação entre tantos outros. A principal marca das produções da Heavybunker é a originalidade de seus projetos e em “Mundo Deserto” essa característica começa no roteiro.
A São Paulo em que se ambienta o filme é idêntica à real em muitos aspectos, entretanto, é oposta em um ponto crucial. No universo do filme, o preconceito racial acontece de maneira inversa: Oscar, advogado pertencente à elite paulistana, é negro, assim como quase todos que compartilham de sua classe social, enquanto os brancos sofrem com a falta de oportunidade e são relegados a empregos subalternos e à vida em guetos. Com essa inversão, o filme suscita de modo original não somente a discussão da criminalidade nas cidades grandes, mas a questão do racismo, arraigado não só em grandes centros, mas em toda a nossa sociedade. Crime, advogados, mulheres fatais, matadores de aluguel e políticos corruptos: com suas cores alteradas, assistimos a um Brasil que reconhecemos e não reconhecemos, simultaneamente.
O ator e ativista Sidney Santiago, que dá vida ao protagonista Oscar, produziu um elenco de atores negros igualmente ativistas que neste filme não representam papéis sociais subalternos, como Naruna Costa, Lucélia Sérgio, Edson Montenegro, Aldo Bueno, Kenan Bernardes, Paulo Américo e participações especiais de intelectuais afro-brasileiros.
A Faculdade Zumbi dos Palmares foi uma das principais locações do filme, parte da pesquisa de arte foi realizada no Museu Afro Brasil e a máxima do seu diretor, Emanoel Araújo, de que “não somos greco-romanos” inspirou a abordagem estética afro-brasileira do filme.
Mundo Deserto de Almas Negras é um “noir tropicalista” pois recombina referências diversas do cinema, do pop e da formação racial brasileira de uma maneira esteticamente experimental. Essa ousadia rendeu uma Menção Honrosa no Cine PE pela dramaturgia inspirada na lógica do remix.
Nesta mesma lógica, artistas como Dexter e Tom Jobim convivem na trilha sonora 100% nacional do filme, repleta de músicas icônicas do nosso cancioneiro, além de novas mixagens dos DJs Zé Gonzales e André Laudz (Tropkillaz) que conduzem a história em um climagangsta-brasileiro.
A data de estreia é 16 de junho.
A HEAVYBUNKER
Sob o nome Heavybunker, Ruy Veridiano (roteirista e diretor), Pedro Hórak (artista plástico), Cadu Silveira (montador e colorista), Renata Pagliuso (produção e comunicação), Alziro Barbosa, ABC (diretor de fotografia) eequipe realizaram o filme “Mundo Deserto de Almas Negras”. O coletivo também é responsável pela realização do curta “Pinball” e o média “Bebete e Daniboy”. Os atores Rodrigo Pavon, Sidney Santiago, Katiana Rangel, Jimmy Wong, Kenan Bernardes e Renaldo Taunay são colaboradores frequentes.
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