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Paciente fazendo hemodiálise |
Luís Alberto Caju
Segundo
os médicos, as doenças renais surgem de forma silenciosa; quando apresentam
os sintomas, já podem estar em estado avançado – quando os tratamentos
possíveis são a diálise ou um transplante de rim. O nefrologista Peter
Fitzpatrick, diretor médico dos Serviços de Diálises da Clínica Mayo, de
Jacksonville, Flórida, explica a doença renal e como é tratada.
De
acordo com o doutor Fitzpatricka doença renal impacta o organismo de diversas maneiras, especialmente
quando há uma liberação de proteínas na urina (proteinúria), aumentando os
riscos de desenvolvimento de cardiopatia coronariana. “A doença renal
também aumenta os riscos de morte e, ainda, de complicações
cardiovasculares durante uma cirurgia”, alertou.
Segundo
ele, pode ocorrer calcificação excessiva nas artérias, causando doença
arterial periférica e complicações de má circulação. “É muito comum que
pessoas com doença renal tenham anemia”, disse. Ela pode levar a sintomas de fadiga e
dificuldades respiratórias, com o esforço físico, e também pode causar
insuficiência cardíaca congestiva.
O médico explica que pessoas com problemas nos
rins podem experimentar falta de apetite, náuseas, subnutrição e perda de
massa muscular. “Como os rins exercem um papel importante no metabolismo da
vitamina D e na regulação dos níveis de fósforo e cálcio, os pacientes com
insuficiência renal correm o risco de desenvolver doenças dos ossos, que
podem resultar em fraturas e dor óssea”, afirmou. O funcionamento da
glândula endócrina, explica, também é afetado e pode causar problemas à
fertilidade, ao desempenho sexual e à função da tireoide. O sistema nervoso
pode ser afetado, levando a sintomas como entorpecimento nas extremidades
(neuropatia), confusão ou letargia.
Ele
ressalta, que além da hipertensão, o fator de risco mais comum para o
desenvolvimento de insuficiência renal é o diabetes. “Frequentemente, essas
duas doenças ocorrem juntas, aumentando muito o risco de desenvolver
insuficiência renal. Com a atual epidemia de obesidade, que estamos
observando, a hipertensão e o diabetes estão se tornando muito comuns”,
frisou. Outros fatores de risco incluem distúrbios no sistema autoimune,
tais como lúpus, uso prolongado de AINEs (anti-inflamatórios não
esteroides), histórico familiar de doença renal e baixo peso ao nascimento.
Hipertensão
arterial
Na
avaliação do médico, diversas pessoas desconhecem qual é a relação entre
hipertensão arterial e insuficiência renal. “A hipertensão é uma das causas
mais comuns de insuficiência renal e, uma vez que a função do rim é
reduzida, a hipertensão arterial pode ser mais difícil de controlar. Assim,
controlar a hipertensão arterial antes que resulte em perda da função do
rim é um aspecto importante da preservação da função dos rins”, detalhou.
Ele
explica quais os testes de sangue e de urina disponíveis para detectar a
doença renal. Quem deveria fazer esses exames e com qual frequência. “Exames
padrão de laboratório são usados para detectar doenças renais. Eles incluem
avaliação do nível de creatinina para a função dos rins. Outros exames são
a urinálise (exame físico, químico ou microscópico da urina) e o da relação
albumina/creatinina, para buscar marcadores de lesão dos rins,
especificamente proteínas e células sanguíneas na urina”, descreveu. Um
ultrassom dos rins também, ressalta, pode ser necessário, se forem
encontradas anormalidades nos testes padrão de laboratório.
“Pessoas
com boa saúde, em geral, devem fazer exames de detecção a cada um ou dois
anos, como parte de seus exames médicos de rotina. Pessoas em risco de
desenvolver doença renal, como os diabéticos ou hipertensos, devem fazer
esses testes pelo menos uma vez por ano”.
Mas o
grande problema para a população é discernir o que é diálise e qual é sua
finalidade
. “A diálise é uma terapia médica para tratar pessoas com insuficiência
renal. A diálise realiza algumas das funções dos rins normais, predominantemente
a eliminação de substâncias tóxicas do sangue e o excesso de líquidos no
corpo”, descreveu.
Porém o problema é o paciente descobrir quanto
tipos de diálises existem. Segundo ele, de
uma maneira geral, há dois tipos de diálises. “A hemodiálise é feita com
uma máquina de diálise que bombeia o sangue do paciente para um de
dialisador, às vezes chamado de rim artificial e, depois da filtragem, de
volta para o corpo do paciente. Durante o processo, apenas de 177,4 a 236,5
mililitros de sangue fica fora do corpo, em qualquer momento”, explicou.
Mais
fluídos
Esse
tipo de diálise é feito em um hospital ou em um centro de diálise. Há um
pequeno número de pacientes em um programa especial, que são treinados,
junto com suas famílias, para realizar a diálise em casa. “Outro tipo de
diálise é chamado de diálise peritonial. A diálise peritonial é feita com a
infusão de um fluido especial de diálise no abdômen do paciente, onde ele
fica por algumas horas e, então, é drenado para fora e, em seguida, o
processo se repete com a infusão de mais fluídos”, disse. As substâncias tóxicas e o líquido em
excesso, explica, no organismo passam das membranas que estão no abdômen
para o fluído e, então, são removidos quando o fluido é drenado. Essa forma
de diálise é a mais feita em casa pelo paciente. Mas também pode ser feita
no hospital.
O doutor tira as dúvidas a respeito da
eficácia desses tratamentos. “Os dois tipos de diálise, a hemodiálise e a
diálise peritonial, são tratamentos muito eficazes para insuficiência
renal. Pacientes que, sem o tratamento, poderiam morrer de insuficiência
renal podem continuar vivendo suas vidas de forma produtiva com a terapia da
diálise”, disse.
É
preciso deixar claro, segundo ele, que a diálise não cura a doença do rim.
É apenas uma substituta para a função normal dos rins. “Da mesma forma, a
diálise não trata qualquer dos outros problemas de saúde que o paciente
possa ter, tais como doenças cardíacas ou diabetes. De fato, a causa de
morte mais comum entre pacientes de diálise são as complicações de doenças
cardíacas ou vasculares”.
O doutor
Fitzpatrick deixa claro que há efeitos colaterais nesse tratamento. “Eles são mais comuns da
diálise são relacionados a problemas com a remoção dos fluidos. Alguns
pacientes podem experimentar quedas de pressão arterial, ao fazer uma
diálise. Outros pacientes reclamam que se sentem abatidos, fatigados ou
excessivamente cansados depois do tratamento com diálise”. Esses efeitos
colaterais, ressalta, tendem a ser menos comum na diálise peritonial.
Outros efeitos colaterais possíveis se devem a problemas como o de se
conseguir acessar o fluxo sanguíneo do paciente. Os acessos da diálise
podem se tornar infectados ou coagulados.
Por fim
ele aconselha a cada paciente de doença renal a discutir as opções de
diálise com um nefrologista, bem antes de realmente precisar iniciar a
diálise. “Essa discussão deveria se dar em um período de, pelo menos, nove
a 12 meses antes de a diálise se tornar necessária”, disse.
Alto
fluxo
Na sua avaliação,
os pacientes precisam decidir se querem fazer hemodiálise ou diálise
peritonial ou, ainda, se um transplante pode ser a melhor opção para eles.
Se a hemodiálise for escolhida, eu recomendaria muito a realização de uma
fístula para acesso à diálise. “Uma fístula precisa ser criada por um
cirurgião vascular, que irá conectar, cirurgicamente, uma artéria a uma
veia no braço do paciente, para criar um vaso de alto fluxo. A fístula é a
forma mais confiável e sem problemas de criar um acesso para a hemodiálise”.
De acordo com ele, uma vez iniciada a diálise é
muito importante que o paciente aceite restrições alimentares e à ingestão
de líquidos. A maioria dos problemas com remoção de líquidos, como os que
já falamos, é causada pelo fato de o paciente comer muito sal e beber muito
líquido. “Eu recomendaria aos pacientes de diálise trabalhar de perto com o
dietista especializado, porque ele pode aperfeiçoar a nutrição e ajudá-los
a se manter o mais saudável possível”, sugeriu.
Ressalta, também, aos pacientes de diálise
a não se esquecer de que, apesar de a diálise não ser perfeita, todos os
integrantes da equipe de diálise estão trabalhando para torná-la tão boa
quanto possível, para cada um dos pacientes. “Na diálise, enfermeiros,
técnicos, dietistas, assistentes sociais e nefrologistas são muito
dedicados e buscam o que é melhor para os pacientes”, finalizou. Para mais
informações sobre tratamento de doenças renais visite
www.mayoclinic.org/portuguese/.
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