O
secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, Alexandre de Moraes,
informou ontem (2) que o novo policiamento comunitário, feito pela Polícia
Militar (PM) na Universidade de São Paulo (USP), começará na próxima
segunda-feira (7). O anúncio ocorre após um estudante ter sido baleado em
tentativa de assalto perto do prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas.
Moraes
disse que o modelo é inspirado no método japonês Koban. “Vamos utilizar esse
método, cuja principal base é a proximidade entre alunos, professores,
funcionários e policiais”, explicou o secretário. A ideia é que a comunidade
acadêmica conheça o policial e que não haja rotatividade na equipe. “[É
necessário] que a própria Cidade Universitária aceite a participação da
polícia, a proximidade com a polícia. Isso vai melhorar muito a segurança no campus.”
Segundo
Moraes, o convênio entre a secretaria e a reitoria da USP será assinado até
amanhã (3). Ele informou que a USP terá um conselho de segurança, com
participação paritária de alunos, professores, funcionários e policiais e que
estão previstos cursos defensivos contra assédio para as estudantes. Mensalmente,
haverá reuniões abertas a toda a comunidade acadêmica para que se possam
sugerir novas regras e discutir questões para aperfeiçoamento do modelo de
policiamento.
Sobre o
papel da Polícia Militar na USP, o secretário disse que será "proteger os
alunos, os professores e os funcionários”. Não há, nesse projeto, nada
relacionado ao que aconteceu durante a ditadura militar, quando “a polícia da
ditadura vinha à Cidade Universitária para tudo, menos para proteger os
alunos”, afirmou Moraes.
Na manhã
desta quarta-feira, viaturas da Força Tática da Polícia Militar rondavam as
vias docampus, por
causa do caso do estudante baleado, Alexandre Simão de Oliveira Cardoso, de 28
anos. No entanto, o movimento de funcionários e universitários parecia não ter
sido abalado. Advogado formado pela Universidade Mackenzie, Alexandre cursa
atualmente o quarto ano de letras. Após ser submetido a cirurgia, no Hospital
Universitário, dentro do próprio campus, ele apresenta boa
recuperação, diz nota divulgada pela reitoria.
Alexandre
tinha saído mais cedo da aula na noite de ontem (1º), quando foi surpreendido
por três jovens. Ele levou três tiros, um dos quais atravessou o tórax. Três
adolescentes suspeitos do crime foram apreendidos. Em nota, a reitoria da USP
informou que a polícia tenta ouvir testemunhas para esclarecer o caso,
registrado no 91º Distrito Policial.
No final
da manhã, a sogra do estudante, Cinira Andrade, de 56 anos, e a cunhada, Sara
Andrade, de 23 anos, estavam na porta do hospital e informaram que Alexandre
deve permanecer hospitalizado em observação por pelo menos mais cinco dias.
Segundo Sara, o estudante não chegou a ir para a unidade de terapia Intensiva
(UTI): da sala de cirurgia, seguiu para um quarto, onde está em recuperação.
Abordados
pela reportagem da Agência Brasil, alguns
estudantes da Faculdade de Letras preferiram não comentar as denúncias de
violência no campus, dizendo que ainda
não sabiam da tentativa de assalto. Os que concordaram em falar no intervalo
das aulas manifestaram-se contra a presença ostensiva da PM na universidade.
Guilherme
Kranz, que está no último ano do curso de letras e não conhecia a vítima,
contou que, casualmente, estava no local quando tudo ocorreu. Ele disse que
não ouviu os tiros, apenas viu a movimentação e correu para saber o que tinha
acontecido. De acordo com Krans, como não havia ambulância disponível no
hospital, a própria guarda da USP levou o ferido para o
pronto-socorro. “É um episódio lamentável que, infelizmente, acontece na
USP, mas também [acontece], diariamente, em todos os lugares, não só em São
Paulo, mas no Brasil inteiro”, lamentou.
Na opinião de Kranz, a criminalidade é decorrente da desigualdade social. Ele disse que estar na USP causa tanto medo quanto andar em qualquer rua da cidade. Sobre a questão de recorrer ao policiamento ostensivo como forma de combate à violência no campus, o estudante foi taxativo: “não é a solução”. Krans ressaltou que o fato tem caráter mais político do que pragmático e disse que é necessário haver mais movimentação de pessoas entre os prédios, maior iluminação e poda frequente das árvores para evitar a escuridão.
Na opinião de Kranz, a criminalidade é decorrente da desigualdade social. Ele disse que estar na USP causa tanto medo quanto andar em qualquer rua da cidade. Sobre a questão de recorrer ao policiamento ostensivo como forma de combate à violência no campus, o estudante foi taxativo: “não é a solução”. Krans ressaltou que o fato tem caráter mais político do que pragmático e disse que é necessário haver mais movimentação de pessoas entre os prédios, maior iluminação e poda frequente das árvores para evitar a escuridão.
Aluno do
primeiro ano do curso de letras e professor da rede pública do estado de São
Paulo, Antônio Pereira da Silva é "absolutamente contra" o
policiamento no campus. Ele disse que se
sente inseguro com a corporação e lembrou a chacina ocorrida em Barueri e em
Osasco, na qual policiais são suspeitos da morte de 19 pessoas. “A gente
deveria procurar medidas dentro da própria instituição, por exemplo, a questão
da iluminação. Já fiquei aqui uma vez à noite e me assustou o quanto é
escuro”, afirmou Silva.
O
estudante destacou que é preciso pensar também na segurança interna, que
considera muito limitada. Quanto às câmeras de segurança, Silva disse que é
uma medida que deve ser tomada com cautela para evitar o crescimento da
participação do setor privado na universidade. Ele se referia à decisão da USP
de instalar câmeras no campus.
Desde o
começo do ano, a Secretaria de Segurança Pública e a reitoria, com
participação da Comissão de Direitos Humanos, trabalham juntas no modelo de
policiamento comunitário, batizado de USP Segura. Segundo nota da reitoria, o
projeto prevê a participação de policiais com perfil próximo ao dos
estudantes, com idade até 26 anos e formação universitária.
O objetivo é
integrar os policiais e a comunidade e trabalhar em conjunto com a Guarda
Universitária. A nota informa que foi implantado um novo sistema de iluminação
e que está em licitação o sistema de monitoramento das áreas comuns do campus,
com a instalação de mais de 450 câmeras.