Em nova votação, plenário aprovou a redução da maioridade penal |
Luís Alberto Alves
Após nova votação, o Plenário da Câmara dos
Deputados aprovou, na madrugada desta quinta-feira (2), a redução da maioridade
penal, de 18 para 16 anos, nos casos de crimes hediondos(estupro, sequestro, latrocínio,
homicídio qualificado e outros), homicídio doloso e lesão corporal seguida de
morte.
O texto aprovado é uma emenda dos deputados Rogério
Rosso (PSD-DF) e Andre Moura (PSC-SE) à proposta de emenda à Constituição da
maioridade penal (PEC 171/93). Foram 323 votos a favor e 155 contra, em votação
em primeiro turno. Os deputados precisam ainda analisar a matéria em segundo
turno.
A
emenda deixa de fora da redução da maioridade outros crimes previstos no texto rejeitado na
quarta-feira, como roubo qualificado, tortura, tráfico de drogas e lesão
corporal grave. O texto anterior era umsubstitutivo da comissão especial que
analisou a PEC.
Estabelecimentos diferentes
Mantém-se, porém, a regra de cumprimento da pena em estabelecimento separado dos destinados aos maiores de 18 anos e dos menores inimputáveis. A União, os estados e o Distrito Federal serão responsáveis pela criação desses estabelecimentos diferenciados.
Por outro lado, o dispositivo que impedia o contingenciamento de
recursos orçamentários destinados aos programas socioeducativos e de ressocialização
do adolescente em conflito com a lei não consta da emenda aprovada.
Para o deputado Efraim Filho (DEM-PB), a redução da
maioridade penal atende ao clamor das ruas. “A população não se sentiu
representada pelo resultado da votação de ontem. O que mais recebi foram
mensagens de pessoas dizendo que deputado anda com segurança, não é assaltado
e, por isso, não se preocupa com a violência”, afirmou.
Um dos autores da emenda aprovada, o deputado Andre
Moura ressaltou a necessidade de coibir a participação de jovens em crimes. “Em
momento algum afirmamos que vamos resolver o problema da segurança do País, mas
vamos dar limites para esses marginais disfarçados de menores”, disse.
Já a líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ),
opinou que a proposta continua ampla. “Basta mudar a lei de crimes hediondos e
se volta tudo [o que estava previsto no texto rejeitado ontem]”, criticou.
Nova votação
A decisão de votar uma emenda com conteúdo semelhante ao texto derrotado na madrugada de quarta-feira gerou polêmica em Plenário. PT, PDT, Psol, PSB e PCdoB lançaram mão de instrumentos de obstrução para impedir a votação da proposta e criticaram a nova votação. Os deputados estão dispostos a ir à Justiça contra a emenda.
Muitas críticas foram voltadas ao presidente da
Câmara, Eduardo Cunha. O deputado Glauber Braga (PSB-RJ) disse que o presidente
estava tentando mudar o resultado de ontem. “Temos uma decisão proferida pela
Casa que, se não agrada, vossa excelência coloca em votação até a vontade de
vossa excelência prevalecer”, afirmou.
O presidente reagiu. “A Presidência não admite a
falta de respeito que está sendo dirigida à Mesa. O deputado tem todo o direito de
questionar, se contrapor às decisões da Presidência, recorrer e até ir ao STF,
como alguns de vocês têm ido sem êxito. Agora, não se dá o direito de
desrespeitar a Presidência”, disse.
Questionamentos
Os parlamentares, no entanto, insistiram que o Plenário estaria repetindo a votação de ontem para impor um novo resultado. “O debate de mérito foi feito ontem e nós vencemos”, ressaltou o deputado Ivan Valente (Psol-SP).
O deputado Alessandro Molon (PT-SP) também criticou
a nova votação. “Qualquer um que vença vossa excelência [o presidente da
Câmara] vence por, no máximo, uma noite. Porque se encerra a sessão e vossa
excelência passa a madrugada articulando a derrota da proposta vencedora”,
afirmou.
Vários deputados fizeram menção à votação da
reforma política, quando a proposta que permitia o financiamento empresarial
para candidatos e partidos foi derrotada na madrugada, mas uma nova emenda
permitindo o financiamento apenas para partidos venceu a votação no dia
seguinte.
Legalidade da votação
Eduardo Cunha rebateu as críticas e defendeu a legalidade na votação da emenda, com respaldo regimental. "Eu acho muita graça que os deputados, alguns do PT, quando eu dei interpretações em matérias do governo, como o projeto da desoneração, as medidas provisórias do ajuste fiscal, ninguém reclamava que a interpretação poderia ser duvidosa. Agora, quando é matéria do interesse deles, de natureza ideológica, eles contestam. Eles têm dois pesos e duas medidas", disse Cunha.
A decisão do presidente teve o aval do líder do
DEM, deputado Mendonça Filho (PE), que também defendeu a nova votação amparado
em uma decisão do ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP).
O PSDB também minimizou as críticas. Para o
deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), o presidente já tinha avisado que a votação
da maioridade não tinha se encerrado na noite de ontem. “Não houve nenhuma
novidade. Todos sabiam que, se o substitutivo da comissão especial não fosse
aprovado, as demais emendas seriam. O processo legislativo continua”, disse.
O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) também
afirmou que já viu esse tipo de votação ser feita no passado, sem
questionamento regimental.
Lista de crimes
Confira os crimes que sujeitarão os jovens de 16 a 18 anos a serem julgados como adultos:
Crime
|
Pena
|
Lei
|
Homicídio
doloso
|
6 a 20
anos
|
Código
Penal
|
Homicídio
qualificado
|
12 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Homicídio
com grupo de extermínio
|
8 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Lesão
corporal seguida de morte
|
4 a 12
anos
|
Código
Penal
|
Latrocínio
|
20 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Extorsão
seguida de morte
|
24 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Sequestro
(e qualificações)
|
8 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Estupro (e
qualificações)
|
6 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Estupro de
vulnerável (e qualificações)
|
8 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Epidemia
com resultado de morte
|
20 a 30
anos
|
Código
Penal
|
Alteração
de produtos medicinais
|
10 a 15
anos
|
Código
Penal
|
Favorecimento
de prostituição ou exploração sexual de criança, adolescente ou vulnerável
|
4 a 10
anos
|
Código
Penal
|
Genocídio
|
12 a 30
anos
|
Código
Penal e 2.889/56
|
ÍNTEGRA DA
PROPOSTA: