As Marginais foram construídas sobre as várzeas, que reduziam o impacto dos transbordamentos; sem elas, a água invade as avenidas |
Quando chove
muito, a água desses rios não encontram mais essas várzeas (funcionam como
esponjas naturais) para impedir os alagamentos
Luís Alberto Alves/Hourpress
Hoje a capital paulista amanheceu
debaixo de água. Ruas e avenidas de diversas regiões ficaram alagadas,
principalmente as Marginais dos rios Pinheiros e Tietê. Quase 50 semáforos
“apagados” pelo temporal que começou na noite de domingo, prosseguiu pela madrugada
desta segunda-feira (10) e início de manhã.
Pergunta que muita gente está
fazendo. Qual a razão para São Paulo ficar imobilizada durante as fortes
enchentes? A culpa é da própria população, que usa os bueiros como depósito de
lixo e constrói casas e estabelecimentos comerciais nas áreas de várzeas.
As duas Marginais do Tietê e
Pinheiros, desde a década de 1950 foram transformadas em corredores de
trânsito, no lugar onde existiam as várzeas desses dois rios. Quando chove
muito, a água desses rios não encontram mais essas várzeas (funcionam como esponjas
naturais) para impedir os alagamentos.
A população usa os bueiros como depósitos de lixo; na época das fortes chuvas a água não encontra espaço para chegar aos córregos, provocando alagamentos nas ruas e avenidas |
Na Zona Norte, região de Vila
Guilherme, onde hoje está o terminal rodoviário do Tietê, na década de 1960
existia naquele local o famoso “lixão de Vila Guilherme”. Aos poucos o mercado
imobiliário ocupou o local, inclusive construindo um shopping center e centro
de convenções. Tudo em cima da várzea.
Outra ignorância do Poder Público
foi “encaixotar” os córregos da cidade e por cima colocar asfalto. Dali
surgiram ruas e avenidas. A 23 de Maio, 9 de Julho, o Vale do Anhangabaú, por
exemplo, estão sobre riachos, que na década de 20 corria a céu aberto.
Por causa do lixo e do
grande volume de água, suas galerias soltam liberam o excesso para fora. Essa é
a razão da Avenida 9 de Julho virar um grande rio quando chove muito. Parte da
Avenida do Estado, próximo do Cambuci, enfrenta o mesmo problema.
Atualmente a maioria das poucas
casas térreas existentes na cidade têm quintais sem impermeabilização.
Resultado: a água sai rápido para as ruas e dali para os córregos, que
canalizados, chega dentro de pouco tempo ao Tietê, Pinheiros ou Tamanduateí.
Como recebem água de toda essa
cidade gigantesca, logo transbordam. A calha desses dois rios, que já consumiu
bilhões para reduzir o assoreamento, é rasa. A água vai para as Marginais, onde
no passado era a várzea, que absorvia o excesso que saia do leito deles.
Quando a porta é arrombada, as
autoridades aparecem propondo alternativas que funcionam apenas como resposta
para o caos que nunca terá fim. Uma cidade onde a impermeabilização do solo é
incentivada nunca se verá livre dos temporais. O modelo de engenharia civil
precisa sofrer mudanças. Várzea deve merecer respeito. A natureza a criou para
reduzir impacto de enchentes!
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