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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Dilúvio: chuva deixa São Paulo debaixo d´água




Luís Alberto Alves/Hourpress

“Se possível, pedimos à população que não saia de casa hoje (10). Adie os compromissos, porque não temos previsão de que a chuva vá parar durante o dia”, alertou o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido. O temporal que desabou sobre a cidade, desde a noite de domingo e madrugada desta segunda-feira (10), provocou vários alagamentos e transbordamento dos rios Tietê e Pinheiros. Zonas Norte e Oeste da Capital foram as mais atingidas.
Marginal do Tietê alagada nesta manhã (10)


Para justificar o caos provocados pelo temporal que caiu sobre São Paulo, o secretário explica que a chuva que castiga a cidade está acima do previsto. “Temos feito vários trabalhos de limpeza, verificando as bombas de sucção nos rios Tietê e Pinheiros. Porém nada disso resolve por completo a situação. A cidade tem muitas áreas impermeabilizadas, contribuindo para que a água da chuva chegue mais rápido aos córregos e rios”, disse.

A mesma opinião tem o secretário municipal de Subprefeitura de SP, Alexandre Modenezi. “O acúmulo de água é muito grande. Os inúmeros córregos transbordaram e a esse forte volume de água contribui para o transbordamento dos rios Pinheiros e Tietê”, explicou.
Aeroporto Campo de Marte também foi alagado na Zona Norte de SP


Ceagesp

A enchente afetou as Zonas Norte e Oeste da Capital, com 63 pontos de alagamentos intransitáveis, 46 semáforos apagados,  provocando interdição ruas e avenidas e de trechos das linhas de trem da CPTM (Cia. Paulista de Trens Metropolitanos). A Grande SP, Principalmente Osasco, Barueri, Guarulhos, Taboão da Serra, Cotia ficaram literalmente debaixo de água.

Desde a noite de domingo e madrugada desta segunda-feira (10), o Corpo de Bombeiros recebeu 320 ligações de pedidos de socorro, 36 desabamentos. Segundo a corporação, situação anormal. A violência da água arrancou 46 árvores. Os reflexos desta enchente vão refletir no bolso da população.
 
Pátio de concessionária de carro, próximo à Marginal Tietê
O alagamento da Ceagesp (maior distribuidor de verduras, legumes e frutas da América Latina), no bairro do Jaguaré, Zona Oeste de SP, prejudicou a entrada e saída de alimentos. Pior: o que estava estocado vai para o lixo, com prejuízo para os comerciantes, porque os preços serão repassados ao consumidor.
História

O histórico de enchentes na capital paulista não é novidade. De geografia montanhosa, solo argiloso difícil de drenar e cortada por diversos vales e cursos d´água, a cidade sempre é ameaçada por alagamentos e inundações. Hoje, São Paulo tem 400 km quadrados de área construída e impermeabilizada.
 
O temporal pegou muito motorista de surpresa perto do rio Tietê
Cada ponto de alagamento formado na cidade, após uma chuva forte provoca prejuízo diário de R$ 1 milhão ao Brasil. Com 749 pontos críticos de alagamento identificados no município, São Paulo tem perdas de aproximadamente R$ 336 milhões. Em escala nacional, as perdas chegam a R$ 762 milhões.

Os grandes culpados pelas enchentes, por incrível que pareça, são os próprios moradores. Muitos deles descartam nas ruas toneladas de detritos, de toda a espécie, na maioria dos dias. Várias avenidas famosas na cidade (23 de Maio, 9 de Julho, Vale do Anhangabaú) estão em cima de córregos. O forte volume de água não é suportado e o alagamento acontece, pegando, na maioria das vezes, os motoristas presos nos congestionamentos.
 
As Marginais do Tietê e Pinheiros foram as mais afetadas
Várzea

Outro grave problema é a ocupação de áreas de várzea, com a construção de avenidas e estabelecimento comerciais. As atuais Marginais do Tietê e Pinheiros, estão em cima de terreno de várzea, que funciona como uma esponja natural, quando o excesso de água dos rios ou córregos é sugado.

O terminal rodoviário do Tietê, o segundo maior do mundo, o primeiro é o de Nova York, nos Estados Unidos, foi construído sobre a várzea no final da década de 1970, pelo governo Paulo Maluf. Quando a cidade sofre enchente, nenhum ônibus chega ou sai do local.

Naquela região, existia uma grande área de brejo, com parte dele funcionando como lixão, que na década e 1960 era famoso como “lixão de Vila Guilherme”. Ignorando as regras da natureza, várias empresas se instalaram naquela área, inclusive um shopping center. Portanto, segundo geólogos, quando chove muito, a água apenas ocupa o lugar que pertence a ela. O estranho na várzea são as construções.
 
Toneladas de lixo nos bueiros contribuem para os alagamentos em épocas de chuva
Enchentes

A maior enchente da história de São Paulo aconteceu em 1929. Deixou a cidade praticamente submersa. Para que ninguém se esquecesse desta tragédia, na estação Armênia do Metrô, na esquina da Avenida do Estado com Rua Porto Seguro, tem uma placa (foto) registrando a altura que água chegou após sair do leito dos rios Tietê e Tamanduateí.
 
Triste recordação da enchente de 1929
Nas décadas de 1980 e 1990, São Paulo enfrentou o mesmo caos. Como um flash back, nessas duas grandes enchentes, a chuva começou na noite do dia anterior, avançou pela madrugada e início da manhã. O resultado foi várias ruas e avenidas alagadas. Na enchente do início da década de 1990, Zona Norte, Oeste, Centro e Grande SP ficaram submersa. Literalmente São Paulo parou (algo raro) como ocorre no dia de hoje.


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