Ganhar a confiança de quem precisa ser tratado é tão importante como auscultar o coração e medir a pressão arterial. Especialmente em tempos difíceis, como os de hoje, em que a Medicina está contaminada pelo tecnicismo e escolas médicas ruins injetam, todos os anos, no mercado, mais e mais “profissionais” de formação insuficiente, em iminente risco aos cidadãos.
Exercer uma anamnese centrada no humanismo, dar atenção ao paciente e ampará-lo em todas as suas necessidades tornam-se aos poucos exceções absolutas em consultórios suntuosos. Lamentavelmente, a engrenagem do sistema é azeitada pela doença em um Brasil que opta pelas mazelas, pela dor e pelo sofrimento das pessoas, desde que deem lucro.
Deveríamos conceber toda a rede de assistência direcionada firmemente para a saúde, para a qualidade de vida e o bem estar individual e coletivo. Ocorre que não é assim que pensa boa parte dos laboratórios, hospitais, planos e operadoras suplementares, médicos, equipes multidisciplinares, entre outros.
Por aqui, prevalece a cruel e equivocada visão de aguardar a doença para intervir. Não existem políticas consistentes e consolidadas para a promoção e prevenção em saúde. Nem esforços vemos voltados honestamente nesse sentido.
O lado iluminado da Medicina é sobrepujado pelo fator negócio. São cada vez mais numerosos aqueles que se distanciam do compromisso de Hipócrates para fazer da saúde um meio exclusivo de enriquecimento.
O tato e a inteligência natural dos bons médicos e cuidadores são desqualificados. Profissionais são robotizados e protocolos sedimentam a ditadura financeira de generosa parcela dos hospitais. Se um paciente entra com uma queixa de unha encravada, já é encaminhado para exames laboratoriais, de imagem, ressonâncias. Ninguém opta pela simplicidade de apará-la, de passar um anticéptico, de orientar como cortá-la e a usar calçados confortáveis.
Enquanto protocolos injustificáveis propiciam a certos hospitais amealhar dinheiro a rodo, pequenas enfermidades transformam-se em casos gravíssimos. A unha encravada vira um episódio de amputação dos dedos. É prejuízo e desequilíbrio ao sistema e um ataque à dignidade humana.
Jamais deixarei de propagar a meus alunos a essência da boa prática. Um médico com M maiúsculo deve dedicar amor ao doente, amar a Medicina e se opor, sempre, à exclusão social no atendimento em saúde.
Volto a frisar: de nada adiantam recursos tecnológicos em profusão sem e presença de um médico que ouça o paciente à luz da ciência e do coração, apto a identificar o mal que o aflige.
Tudo começa com um aperto de mão. Um momento básico, que diz muita coisa, para quem exerce o ofício com amor. Mãos quentes podem revelar um estado febril. Ou quem sabe um hipertireoidismo. Se frias, um estresse, quem sabe. Já o suor excessivo nas palmas das mãos bom sinal não é: talvez seja uma reação corporal de um paciente que não está confiante e/ou confortável com aquele que está à sua frente. Fica a dica.
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