Quem ousar bater de frente contra o sistema pagará com a vida
*Luís Alberto Alves/Hourpress
As nove mortes ocorridas, nesse
final de semana, durante Pancadão na
favela de Paraisópolis, Zona Sul de SP, revela a falência da política de
Segurança Pública. Por quê? Por que há décadas a periferia é vista como
inimiga pelos governantes, seja de direita ou esquerda.
É diferente o tratamento da Polícia
para a população que não mora nas regiões nobres. Este detalhe revela a
truculência usada contra os adolescentes
e jovens que estavam no Pancadão de Paraisópolis. Se esta multidão estivesse
numa festa de rua em Vila Madalena, Zona Oeste, os Pms agiriam do mesmo
jeito? Não!
Qual a razão para tanta
violência aplicada pela PM contra
negros, pobres e jovens da periferia? Passadas mais de 3 décadas do final da
Ditadura Militar, que tomou o poder em 1964 por meio de golpe de Estado, ainda continua intacta a política de Segurança
Nacional.
Luís Alberto Alves |
Prisão
Os policiais ainda enxergam moradores das periferias como inimigos, não
como brasileiros. A repressão é
forte, resultando no alto número de jovens executados a tiros, sob desculpa de resistência à prisão. O
curioso é que nestes tiroteios poucos policiais são feridos.
Quem ousar bater de frente
contra o sistema pagará com a vida. O negro morador na periferia é suspeito
sempre na ótica desta tosca política de
Segurança Pública. Mesmo quando esteja se divertindo nos bailes realizados
na ruas, essa atitude é vista como rebelião.
Daí a violência descomunal aplicada contra adolescentes e jovens que não
aceitam, com razão, a segregação de ficar dentro de casa nos finais de
semana. As denúncias de que policiais
teriam impedido o socorro das vítimas pisoteadas e agredidas durante o Pancadão de Paraisópolis é a ponta
deste iceberg.
Bala
de borracha
Nada disso mudará. O governador paulista João Doria (PSDB) deixou bem
claro que essa política de Segurança Pública não sofrerá mudança. Ou seja, nas áreas nobres, os Pms farão
abordagens civilizadas, mesmo quando chegarem num baile de rua, como ocorre
no bairro classe média de Perdizes, Zona Oeste. Ali também tem Pancadão.
Já na periferia, o cassetete, o gás pimenta, a bala de
borracha, socos e pontapés serão usados como mecanismos de que a “ordem”
deve ser mantida. Igual na África do Sul, no auge do apartheid, quando os
negros eram alvos de todo tipo de violência.
Aqui no Brasil, não basta ser negro: nesta
lista está incluso o pobre, branco, que
por falta dinheiro é obrigado a residir em regiões afastadas do Centro. Ele também é alvo desta violência policial.
Para piorar, o Estado não oferece alternativas de lazer para milhões de
adolescentes e jovens. Imagina que a repressão seja a solução. Tentam enxugar gelo ou ensacar fumaça.
*Luís
Alberto Alves é diretor de redação do
hourpress.com. br e jornalista há mais de 30 anos. Trabalhou nos principais
veículos de comunicação de SP. É expert em Política Internacional, Segurança
Pública, Economia, Música, Veículos, Gospel Music, Sindicalismo e Meio
Ambiente. É grande estudioso de Black Music, arranjador e músico de formação
clássica.
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