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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Geral: Enxaqueca em crianças é associada à falta de atenção


Luís Alberto Alves
A enxaqueca não acomete somente adultos. A doença é comum em crianças e a prevalência na infância varia entre 3,76% e 17,1% no Brasil, podendo ser causa de déficits de atenção e pior desempenho escolar, bem como interferir nas relações familiares e sociais.

Devido a frequente procura de crianças no Setor de Investigação e Tratamento das Cefaleias (SITC), da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp), Campus São Paulo, pesquisadores do mesmo setor decidiram estudar a atenção visual de crianças recém-diagnosticadas com enxaqueca e crianças em tratamento preventivo da enxaqueca e compara-las a um grupo controle saudável.

A neurologista-chefe do Setor de Cefaleias e autora do estudo, Thais Rodrigues Villa, explica que a queixa de dificuldades escolares é comum em crianças com enxaqueca, e os pais e os professores referem que essas crianças parecem desatentas em casa e na sala de aula.

Desta forma, foram analisadas 82 crianças de 8 a 12 anos de idade divididas em três grupos distintos: 30 crianças com enxaqueca sem tratamento, 22 crianças em tratamento e 30 crianças controle saudável.

Para a análise, as crianças analisadas estavam livres de dor e sintomas de enxaqueca nos três dias que antecederam a avaliação e foram submetidas a avaliações médicas e neuropsicológicas.

Os 30 participantes do grupo sem tratamento haviam sido recém-admitidos no Ambulatório de Cefaleias na Infância do Setor de Investigação e Tratamento das Cefaleias da Unifesp e todos foram diagnosticados com enxaqueca. A média de dias de dor de cabeça por mês foi de 5 dias, sem uso prévio de qualquer tratamento preventivo para enxaqueca.

Já os participantes do grupo que estava realizando tratamento preventivo da enxaqueca eram pacientes regulares do ambulatório, com média de 6 dias de dor de cabeça por mês antes do tratamento, que teve início de 4 a 6 meses antes da avaliação. Esse tratamento era realizado com medicações indicadas para prevenção das crises de enxaqueca, e eram tomadas diariamente. As crianças em tratamento tinham que estar livres de dor e sintomas de enxaqueca nos dois meses anteriores à avaliação.

Já o grupo formado por crianças sem dor de cabeça foram selecionados por meio de questionários preenchido pelos pais em duas escolas públicas de São Paulo.

As crianças com enxaqueca sem tratamento tiveram um desempenho significativamente pior em testes de atenção visual em comparação com o grupo controle e o grupo de crianças submetidas ao tratamento preventivo da enxaqueca. Os participantes que nunca trataram a enxaqueca apresentaram déficits de atenção seletiva e alternada.

Durante os testes de atenção, crianças com enxaqueca apresentaram altos níveis de impulsividade. Já aquelas em tratamento apresentaram níveis inferiores de impulsividade e ansiedade e o desempenho de atenção semelhantes ao grupo controle saudável, destacando o benefício do tratamento eficaz das crianças com enxaqueca.

Em comparação com crianças que não receberam nenhum tratamento, as crianças que receberam melhoraram seu desempenho escolar e receberam menos queixas de pais e professores sobre déficits de atenção.

“É necessário investigar o déficit de atenção em crianças com enxaqueca e procurar ajuda especializada para o tratamento preventivo da dor de cabeça, quando este for indicado. Com um tratamento eficaz, é possível que o equilíbrio cerebral seja restabelecido e observamos melhora dos sintomas da enxaqueca e, consequentemente, dos déficits de atenção associados à doença”, conclui4 Thais.

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