Presos políticos na Ditadura Militar brasileira |
Luís Alberto Alves
Durante a ditadura,
os presos políticos eram fotografados em diferentes situações: investigações,
atos de prisão, tortura, exames de corpo de delito, processos de banimento,
inquéritos e necropsias. Esses retratos de identificação policial, produzidos
com o objetivo de controle dos prisioneiros, ressurgem agora em Retratos de Identificação, de
Anita Leandro, como provas de crimes e atos violentos perpetrados pelas Forças
Armadas e pela Polícia Civil.
Resultado de quatro anos de pesquisa junto aos
arquivos públicos, o documentário está entre as 15 produções da competição
internacional do FID –
Festival Internacional de Cinema de Marselha, que acontece entre 30 de junho e
6 de julho de 2015.
O documentário
brasileiro, que traz à tona um conjunto importante de documentos textuais e
iconográficos, até então desconhecidos, da história da ditadura militar,
compete com produções da Alemanha, Líbano, Síria, Estados Unidos, Portugal,
Reino Unido, Áustria, Chile, México, Argentina, República Dominicana e França.
A documentação mostrada no filme refere-se,
especificamente, à prisão de quatro pessoas, todas barbaramente torturadas. No
filme, os dois únicos sobreviventes desse grupo se deparam, pela primeira vez,
com documentos e fotografias relativos a esses acontecimentos.
Antônio Roberto Espinosa, na época comandante da
organização VAR-Palmares, conta como foi sua prisão ao lado de Maria
Auxiliadora Lara Barcellos e Chael Schreier, e testemunha sobre o assassinato
de Schreier. Reinaldo Guarany, do grupo tático armado ALN, relembra sua saída
do território nacional em 13 de janeiro de 1971, em troca da vida do embaixador
suíço Giovanni Bucher; a vida no exílio, sem documentos, e o suicídio de Maria
Auxiliadora Lara Barcellos, com quem vivia na época em Berlim.
Alguns documentos revelados pelo filme, como as
fotos de Chael Schreier, comprovam que ele não foi ferido em combate na noite
da prisão, como pretende um documento forjado por um de seus torturadores, o
capitão Celso Lauria. As fotografias, provenientes dos acervos de diferentes
agências de repressão, como o DOPS da Guanabara e o Serviço Nacional de
Informação, encontram-se, hoje, sob a guarda do Arquivo Estadual do Rio de
Janeiro, Arquivo Nacional e Superior Tribunal Militar.
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