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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Variedades: Leitor ganha biografia de Julio Cortázar no centenário do seu nascimento



Julio Cortázar foi um dos mais célebres escritores argentinos

Redação


 O dia 26 de agosto deste ano marca os 100 anos de nascimento de um dos escritores mais originais e célebres de seu tempo e grande inovador da literatura sul-americana, o argentino Julio Cortázar. Para comemorar em grande estilo, a Editora DSOP lançará nesta mesma data, em seu estande na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo,Cortázar: notas para uma biografia, de Mario Goloboff, com tradução de José Rubens Siqueira, com direito a bate-papo sobre a vida e obra do autor, intercalado com leituras de trechos de sua obra, comandado pela escritora Andrea del Fuego, ganhadora do Prêmio Literário José Saramago. O evento acontece até 31 de agosto, no Anhembi, Santana, Zona Norte de SP.

 Por ter sido amigo de Cortázar, somente o biógrafo Mario Goloboff poderia falar com tamanha propriedade de sua vida, numa biografia de caráter tão íntimo e pessoal. O livro aborda temas muito diversos da vida e obra de Cortázar que proporcionam aos leitores uma maneira de chegar mais perto de um dos escritores mais complexos e de maior sensibilidade literária de sua geração. Trata-se de uma leitura indispensável para quem é apaixonado por literatura e quer conhecer outras faces desse grande autor.

 Nas palavras do tradutor, “muito além das referências biográficas, Mario Goloboff trabalhou nesta obra para construir um arcabouço de informações até então pouco abordadas sobre a vida de Julio Cotázar. No conjunto dos capítulos do livro, pode-se perceber que são abordadas notas biográficas de diferentes níveis e aspectos, pincelando as ações políticas, sociais e literárias desse grande gênio do século XX. A partir de uma ampla pesquisa, o livro traz à luz aspectos menos conhecidos desse autor magistral”.

 Um desses aspectos a que se refere Siqueira é o mergulho de Cortázar na vivência política, movido pela compaixão pela humanidade. Tal humanidade é sintetizada numa epígrafe de Juan Rulfo, na introdução do livro: “Tem um coração tão grande que Deus precisou fabricar um corpo também tão grande para acomodar esse seu coração”.

 Para a diretora editorial da DSOP, Simone Paulino, publicar o livro representou um delicioso desafio: “Meu primeiro contato com essa biografia do Cortázar aconteceu na Feira do Livro de Buenos Aires, no início do ano. Tivemos que juntar muitos esforços para ter a obra pronta no aniversário dele, mas valeu a pena”, conta. “Embora despretensioso, é um livro que contribuiu a um só tempo tanto para a fortuna crítica do autor, sendo, portanto, uma leitura bastante recomendável para pesquisadores da sua obra, quanto para o leitor comum, apaixonado pela figura enigmática do criador dos cronópios, famas e esperanças”, completou Simone.

                                                                   Notas biográficas

 Julio Cortázar deu vida à literatura argentina com textos carregados de realismo e sensibilidade excessiva. Era um homem bondoso, de coração grande, pessoa justa, diziam os seus próximos. Lutou por justiça, e se sacrificou por ela. Ele escrevia sobre a beleza da vida, apesar da tristeza, sofrimento, angústia e desesperança que lhe cabiam. Era um leitor voraz. Para tirar o menino do quarto era preciso severidade. Ele deixava de comer para ler, era doente por leitura, por isso não era de se admirar que tivesse uma vida escolar brilhante, sempre um dos melhores alunos da classe. Sofria de asma, bronquite, mas a paixão e fixação pelos livros era o que lhe trazia luz e a cura de todos os problemas de sua vida.

 Filho de argentinos, Julio Cortázar nasceu na embaixada da Argentina em Ixelles, na Bélgica, e foi para seu país de sangue aos quatro anos de idade, onde se formou professor em Letras em 1935 e viveu até os 37 anos, quando se mudou permanentemente para Paris, na França. Ele viveu na capital francesa com dificuldades financeiras até receber o convite da Universidade de Porto Rico para fazer a tradução da obra completa, em prosa, do escritor Edgar Allan Poe. Essa foi considerada pelos críticos a melhor tradução já feita da obra do grande novelista inglês.

 Foi em Paris que Cortázar escreveu a maioria de seus livros, entre contos, novelas e poemas, incluindo seus grandes sucessos O Jogo da Amarelinha (1963) e Histórias de Cronópios e de Famas (1962). Neste último, o escritor argentino reinventa o mundo com seus personagens, os cronópios, as famas e as esperanças, que servem como tradutores da psicologia humana. Em O Jogo da Amarelinha, seu maior sucesso de vendas, o autor transpõe brilhantemente os limites da literatura convencional com uma história que pode ser lida de várias formas. Se lida linearmente, a história tem um sentido. Se lida salteadamente, como o próprio autor sugere, o sentido é outro.

 Um de seus contos chamado As Babas do Diabo, presente em seu livro As Armas Secretas, foi inspiração para Blow-Up (Depois Daquele Beijo), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni. O filme ganhou o prêmio Grand Prix do Festival de Cinema de Cannes de 1966 e teve indicações ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA, além de ter sido referência para vários outros filmes posteriormente.

 Julio Cortázar foi também muito envolvido com a política, mais veementemente após uma viagem a Cuba no ano de 1963, e se comprometeu politicamente grande parte de sua vida com a libertação dos países da América Latina que sofriam com regimes ditatoriais.

 Em 1982, sua última esposa faleceu e Cortázar, que tinha a saúde debilitada há algum tempo, entrou numa depressão profunda. No ano seguinte, ainda viveu uma experiência muito simbólica quando visitou sua Argentina já recuperada para a democracia e pôde rever lugares e amigos pela última vez. Foi inclusive reconhecido na rua por populares como o grande gênio da literatura que era. Cortázar morreu em 1984 de leucemia e foi enterrado no cemitério de Montparnasse, onde se ergue, acima de sua tumba, um de seus mais inesquecíveis personagens, o cronópio. "Tua sombra espera atrás de toda luz.” – Cortázar

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