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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Internacional: A paz perde um guerreiro, morre Nelson Mandela



O terror do apartheid não derrotou a determinação de Mandela

Luís Alberto Caju
 A morte de Nelson Mandela nesta quinta-feira (5) deixa o mundo mais pobre em relação à luta pela paz e igualdade social. O homem que ficou encarcerado 27 anos, mas não permitiu que o ódio dominasse o coração. A máquina do apartheid (horroroso sistema de discriminação inventado pela África do Sul na década de 50) perdeu a força contra o preso político mais famoso do mundo da década de 1960 até 1990.
 Lembro-me de sua única e inesquecível visita ao Brasil, em 02 de agosto de 1990, para pedir apoio à sua causa. Recepcionado num almoço no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, descreveu o terror do apartheid em poucas palavras: “No meu país brancos e negros não podem conviver no mesmo espaço, como vejo aqui neste almoço. Nem sequer podem andar juntos na mesma calçada, mesmo sendo humanamente iguais”.
 Por causa de ameaças de extremistas, desde a libertação ocorrida em fevereiro daquele mesmo ano, uma multidão de policiais esteve ao redor do líder pacifista sul-africano. Era muito difícil qualquer contato com ele. Após o evento, Mandela saiu do local onde fora recepcionado para ir embora. No saguão a imprensa o aguardava, após várias horas de espera.
 A Polícia Federal tentou impedir qualquer contato, às vezes com empurrões e gritos. Neste momento aconteceu algo maravilhoso. Mandela olhou para nós, alguns com blocos de papel, gravadores e máquinas fotográficas nas mãos e pediu de forma serena calma aos policiais.
Durante 15 minutos respondeu diversas perguntas. Neste curto período, que para mim foi grandioso, pude observá-lo a menos de 2 metros de distância. Alto, talvez com 1,90m, os cabelos brancos na cabeça e o sorriso cativador. A voz pausada pela experiência da vida de lutas (e foram inúmeras) trouxe respostas brilhantes.
Ao perceber vários jornalistas negros e brancos juntos, mais uma vez atacou o apartheid: “Na África do Sul nas últimas décadas essa cena que vejo aqui neste lugar, não acontece. Ali não há igualdade, só barbárie e violência contra a população negra”. Mesmo com problemas que vocês enfrentam, ressaltou, percebo que o Brasil é um país maravilhoso, pois existe igualdade nesta nação.
Lista de convidados do inesquecível almoço oferecido a Nelson Mandela em São Paulo
 De forma lenta, virou-se e tomou a porta da saída do Palácio dos Bandeirantes, acenando para multidão que se espremia no saguão. De forma inesperada participei de um momento, que hoje classifico de inesquecível: estar diante do homem, que após Gandhi e Martin Luther King, sintetizou o quanto é maravilhoso não se deixar contaminar pelo ódio, o combustível da violência em todos os níveis.
 Passados 23 anos, nesta quinta-feira vieram à minha mente todas as lembranças desse encontro com Nelson Mandela. Do homem que lutou até fim para que o seu povo conhecesse o doce gosto da liberdade, sem qualquer resquício de revanche no coração. Mesmo maltratado pelo sistema prisional sul-africano, que resultou em sérios ataques à saúde, conseguiu viver para derrotar o aparheid. Entrou para a eternidade. Nunca será esquecido, mas lembrado, pois o “choro pode durar uma noite, mas alegria vem pela manhã”.
 O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, disse em pronunciamento nesta sexta-feira (6), que o velório do ex-presidente Nelson Mandela vai acontecer no dia 10 no Estádio Nacional de Johannesburgo, capital do país, e o enterro será no dia 15 na aldeia de Qunu, onde o líder passou sua infância. Entre os dias 11 e 13 de dezembro, o corpo de Mandela ficará exposto em Union Buildings, em Pretória, residência oficial e sede do gabinete da Presidência do país, local onde ele tomou posse após vencer as primeiras eleições democráticas depois do fim do apartheid. Cerimônias em memória do ex-presidente acontecerão em todo o país no período.
 Segundo Zuma, livros de condolências em todas as representações diplomáticas do país no Exterior, enquanto no quarto dia após a morte, iniciarão as visitas de "dignatários" à família de Madiba. No sexto dia após a morte de Mandela, será realizada uma cerimônia comandada por Zuma, na presença de líderes de várias organizações, que será acompanhada por telões nas principais cidades do país, incluindo o bairro Soweto, em Johannesburgo.  


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