O personagem Odorico Paraguaçu é da época que novela da Globo não apelava para baixaria |
Ronilson Bezerra Rodrigues, um dos suspeitos da máfia da propina na Prefeitura de SP |
Luís
Alberto Caju
Desgraça
à vida: Este seria o nome apropriado para a novela das 9h da
Globo. Sinto saudade de autores como o casal Dias Gomes e Janete Claire. Ambos
sabiam como escrever tramas que prendia a atenção do público, sem apelar para
golpes baixos. Exemplo disso é “O Bem Amado”, exibido em 1973, do saudoso
personagem Odorico Paraguaçu, prefeito cujo sonho era inaugurar o cemitério,
construído por ele, na fictícia Sucupira. “O Astro”, de 1978, com Francisco
Cuoco no papel de charlatão, outra obra-prima das mãos de Janete Claire.
Hoje, com tantos recursos tecnológicos,
capazes de envelhecer ou rejuvenescer o personagem ou colocá-lo em qualquer
lugar mundo, a novela Desgraça à Vida é um tapa na cara do telespectador. O pai
teve um filho da garota de programa, que ele obrigou a casar com o outro filho
gay. Por sua vez, este joga no lixo o bebê da irmã, nascido no banheiro imundo
de um boteco. O pai canastrão resolver transar com a secretária (piranha de
plantão), que fica grávida, mas detesta a criança.
Em outra extensão, a mãe, ex-dançarina
do programa do Chacrinha, sente prazer em empurrar a filha para cima de rapazes
ricos, para garantir o futuro financeiro da família. Depois a Rede Globo não entende a queda de sua
audiência. Esqueceu-se de que a grande parcela da população, principalmente de
baixa renda, não gosta de ver tragédias em novelas (bastam os telejornais
espreme sangue do horário das 18h). Querem sonhar. Pois já conhecem e sentem na
pele o sufoco diário de vender o almoço para comprar a janta.
Vaso sanitário entupido: É assim que se parece a
situação da Máfia da Propina na Prefeitura de São Paulo, na gestão Fernando MaldHaddad (PT). Os recentes
desdobramentos provocaram o afastamento do secretário de Governo da Prefeitura,
Antonio Donato. Existem suspeitas de seu envolvimento com o grupo de fiscais
acusados de cobrar propinas de construtoras para liberar o Habite-se. O grupo
teria provocado um rombo de R$ 500 milhões ao reduzir o valor do ISS (Imposto
Sobre Serviços) de imóveis novos em troca da “caixinha”.
Os cabeças
do escândalo sãos os fiscais: Ronilson Bezerra Rodrigues, Luiz Alexandre de
Magalhães, Eduardo Horle Barcellos (trabalhou no gabinete de Donato no primeiro
semestre deste ano). Rodrigues, suspeito de chefiar a fraude, ocupou cargo na
diretoria de finanças da SPTrans (empresa municipal de transporte) de fevereiro
a junho, também é ex-subsecretário da Receita Municipal. O nome de Donato foi
ainda citado em depoimento ao Ministério Público por uma auditora, que
mencionou colaborações à campanha dele em 2008, com dinheiro do esquema.
Como diz o
ditado popular: “Em puteiro não existe mulher virgem”. Se a Justiça apertar mais o cerco,
provavelmente aparecerão mais personagens nesta história imunda. Depois os
políticos reclamam do desencanto dos eleitores. Mas hoje qual o partido honesto
que existe no Brasil? A regra é entrar no governo para ganhar dinheiro. O bem-estar
da população fica em segundo plano. Ideologia é uma palavra desconhecida pelas
agremiações políticas brasileiras. O negócio é faturar.
Abandono: É triste o abandono de
pacientes internados com doenças graves, como câncer, nos leitos dos hospitais
públicos. Muitos médicos, na maioria, sabendo que não adianta mais ministrar
medicamentos, pois o caso é irreversível, colocam uma sonda para injetar soro
naquele corpo, que espera a chegada da morte. Quando os familiares reclamam, o
médico retruca que não pode fazer mais nada.
Em alguns hospitais públicos, a
imundície é vista a olho nu dentro dos quartos, verdadeiro reservatório de
superbactérias. Quem é rico e influente nas altas esferas governamentais, faz o
tratamento nos hospitais top de linha ou vai para o Exterior. Quanto à grande
maioria da população, o destino cruel é aguardar a morte no leito de um
hospital público, sem qualquer atenção de médicos.
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