Famintos, desempregados e a
explosão da violência não poderão ser contidos pela repressão
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Local onde funcionou o DOI/Codi, em São Paulo, no bairro do Paraíso |
*Luís Alberto Alves/Hourpress
As declarações do general
Heleno Fonseca, que assumirá a chefia do GSI (Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República), a respeito de mais investimentos na
Abin (Agência Brasileira de Inteligência), precisa ser vista com preocupação.
Não é novidade a proposta de caça às bruxas de movimentos de esquerda e de
opositores do novo governo.
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Luís Alberto Alves |
A Abin é um SNI (Serviço
Nacional de Informações) sofisticado. Na ditadura militar de 1964, os agentes
desta CIA inventada no Brasil se infiltravam entre a oposição e entidades de
classe, principalmente estudantis e sindicalistas, para identificá-los,
prendê-los e depois torturá-los até a morte nas casas de horror espalhadas por
todo o Brasil.
Ninguém tem mais dúvida de que
o governo Bolsonaro será dominado pela extrema-direita. Qualquer reivindicação
sofrerá repressão. No campo, o MST (Movimento Sem Terra) vai enfrentar muita
bala de borracha ou mesmo de chumbo para conter ocupações de gleba de terras à
espera de valorização para cair nas mãos do agronegócio.
Sindicatos de trabalhadores,
sem o dinheiro do imposto relativo a um dia de serviço descontado de todo
brasileiro, ficaram sem força. As entidades patronais encontraram a torneira do
bilionário sistema S e continuarão em atividade. Para complicar, o ministério
da Justiça, nas mãos do juiz Sergio Moro, ficará no pé dos sindicalistas. Um
protesto, que é garantido pela Constituição Federal, será interpretado como ato
terrorista. Resultado: prisão de diretores e militantes.
A maioria do eleitorado, grande
parte sem consciência política, vai elogiar a detenção de opositores, classificados
pelo sistema de baderneiros, contrários ao progresso do Brasil. Igual na
ditadura de 1964. Não vai demorar em começar prisões ilegais e a tortura se
transformar em ato legal, para obtenção de informações.
Jornalistas que se recusaram a
dar benção para o autoritarismo também entrarão na alça de mira. Calculo que
blogs e sites críticos ao governo enfrentarão problemas. Os patrões da grande
imprensa continuarão batendo palmas a toda besteira que o presidente da
República fizer, desde que a verba publicitária do Palácio do Planalto esteja
na conta corrente deles.
Uma das regras do jornalismo é
a observação. Prestar atenção a detalhes que o leigo deixa passar em branco.
Notem que vários postos chaves do próximo governo são ocupados por militares.
Por que? Tudo para contribuir no fechamento do cerco. A extinção do ministério
do Trabalho é para aprofundar a falta de direito no mercado. Emprego será
sinônimo de escravidão. Não somente para negros, como ocorria no século 19, mas
incluídos todos os brasileiros.
A adoração ao ditador mor
Donald Trump e elogio as suas loucuras revela o quanto o Brasil mergulhará em
enrascadas no comércio exterior. A primeira delas foi deixar a neutralidade em
relação ao conflito árabe no Oriente Médio. Ao puxar a sardinha para Israel,
disse não aos importadores de carne e outros produtos que rendiam muito
dinheiro ao País. A segunda foi arrumar encrenca com o maior comprador de
mercadorias do planeta: a China.
Sem as importações chinesas,
que ultrapassam as cifras de bilhões, e árabes, logo os empresários começarão a
protestar. Sem dinheiro em caixa irão demitir, jogando mais pólvora no barril
do desemprego, que a cada dia cresce mais. Falta de trabalho reduzirá
circulação de dinheiro, aumentarão os problemas sociais. A rede pública de
saúde não terá condição de atender a gigantesca demanda.
Nesta altura do campeonato, o
presidente não poderá jogar a culpa no PT. Porque foi ele o responsável pelas
burradas. O big boss Paulo Guedes perceberá que não basta só encher, cada vez
mais, os cofres dos banqueiros. A indústria quebrada exigirá redução de
impostos e reivindicará renúncia fiscal. Famintos, desempregados e a explosão
da violência não poderão ser contidos pela repressão. É quadro perfeito para a
queda de alguém que pensou administrar o Brasil apenas com bravatas.
*Luís Alberto Alves é diretor de redação do hourpress.com. br e jornalista
há mais de 30 anos. Trabalhou nos principais veículos de comunicação de SP. É
expert em Política Internacional, Segurança Pública, Economia, Música,
Veículos, Gospel Music, Sindicalismo e Meio Ambiente. É grande estudioso de
Black Music, arranjador e músico de formação clássica.