Redação
Umas das datas mais esperadas pelos brasileiros – e
pelos estrangeiros – está próxima. As marchinhas do Carnaval já começam a ecoar
nas esquinas do país. E quem pretende cair na folia não pode deixar de fora os
confetes, a serpentina e, claro, a camisinha. Afinal, diversão também requer
responsabilidade. O preservativo é a garantia de que a alegria continue depois
do feriado. Além de método contraceptivo, é a melhor maneira de se manter livre
das doenças sexualmente transmissíveis.
Estudos recentes têm mostrado uma forte ligação
entre a infecção genital pelo papiloma vírus humano (HPV) e o câncer de colo
uterino. O HPV está presente em mais de 99% das células destes tumores. Existem
mais de 200 tipos de HPV e estes podem ser classificados segundo o risco para o
desenvolvimento deste câncer. Aproximadamente 15 tipos de HPV são considerados
de alto risco e estão relacionados com o câncer de colo uterino, dentre estes,
os mais importantes são o HPV 16 e o HPV 18, encontrados em 70% dos casos.
Mas, o que é realmente importante saber sobre o
HPV? O vírus sempre resulta em um câncer? Para tirar essas e outras dúvidas,
entrevistamos o médico oncologista Ellias Magalhães e Abreu Lima, da Oncomed BH, que esclareceu as
principais dúvidas sobre o assunto.
1- O que é o HPV?
R.: O HPV, Papiloma vírus humano, é uma família de
mais de 150 tipos vírus que infectam exclusivamente a pele e mucosas dos seres
humanos. Aproximadamente metade das pessoas com vida sexual ativa se infectará
por um ou mais subtipos de HPV durante a vida e por isso ele é considerado a
infecção sexualmente transmissível mais comum do mundo.
Pesquisas recentes
mostram que 40% das mulheres são portadoras do vírus no trato genital, ao passo
que outros 16% o têm alojado na orofaringe (garganta). O vírus é responsável
pelo desenvolvimento de diversas patologias como a verruga vulgar, a verruga
plana, o condiloma acuminado (verrugas genitais) e o câncer de colo uterino,
canal anal, vulva, vagina, pênis e orofaringe. A maioria dos subtipos de HPV
não apresenta potencial para levar ao câncer. Os subtipos mais encontrados nas
doenças malignas são 16 e 18.
2- Quais os tipos de exame podem detectar o HPV?
R.: O diagnóstico de infecção pelo HPV é feito
através da pesquisa do DNA / RNA do vírus na amostra do tecido da mucosa
genital, anal, oral ou outro local suspeito. Não é possível identificar a
presença do vírus através de exames de sangue. Isso ocorre porque normalmente a
infecção pelo HPV se restringe às camadas mais superficiais do epitélio (tecido
de revestimento).
3- A infecção pelo HPV nem sempre resulta em câncer. Nesses
casos, o HPV pode causar outro tipo de doença, pode causar infertilidade? Por
quê?
R.: Os HPVs são
divididos em oncogênicos, aqueles que têm a capacidade de desenvolver câncer, e
os não oncogênicos, não relacionados ao desenvolvimento de tumores. Alguns
subtipos não oncogênicos têm predileção pela pele, neste caso levando ao
aparecimento de verrugas comuns, planas e plantares (nas plantas dos pés).
Outros subtipos têm tropismo pela pele e mucosas da região anogenital. Os
sítios mais comuns de infecção são o pênis, o escroto, a região perianal, o
canal anal, a vulva, o introito vaginal e o colo uterino. Levam ao aparecimento
das verrugas genitais (condiloma acuminado). O HPV pode infectar a cavidade
oral, levando ao aparecimento de lesões potencialmente malignas.
O HPV não é
responsável direto por infertilidade na mulher. Entretanto, HPVs oncogênicos
podem levar ao aparecimento de câncer e o tratamento da doença, muitas vezes
envolvendo cirurgia (retirada de útero e ovários), radioterapia e quimioterapia
pode levar à esterilidade feminina.
4- O que a mulher pode fazer para evitar a contaminação?
R.: A principal forma de transmissão do HPV é o
intercurso sexual, seja ele genital, anal ou oral. Assim sendo, a maneira mais
eficaz de se evitar a infecção pelo HPV é a abstenção do contato sexual com
outra pessoa. Para aqueles com vida sexual ativa, uma relação monogâmica
duradoura com parceiro não infectado é a estratégia mais provável de prevenir o
contágio. O problema é que, por tratar-se de infecção assintomática, é difícil
determinar se o parceiro que teve vida sexual ativa no passado está ou não
infectado pelo HPV. Pesquisas mostram que o uso correto e consistente de
preservativos pode diminuir as chances de contaminação.
5 - Além do sexo, há outras formas de transmissão
do HPV?
R.: A forma mais comum de contágio do HPV é o
contato íntimo pele / pele, no caso das verrugas da pele, e o intercurso sexual
(genital, anal ou oral), no caso das cepas anogenitais. Beijar ou tocar a
genitália do parceiro com a boca também pode transmitir a infecção. 16% da
população possui o vírus alojado na garganta. O HPV não é transmitido pelo
sangue.
6 - Quais
os sintomas do HPV?
R.: Lesões do
HPV no colo uterino raramente determinam sintomas. Na maioria das vezes são
descobertas ocasionalmente através do exame preventivo de papanicolau. Verrugas
genitais podem causar prurido, sensação de queimação e eventualmente levar a
sangramentos durante o ato sexual. Elas são associadas a depressão, disfunção
sexual, sentimento de culpa, vergonha, medo da rejeição pelo parceiro e perda
da sexualidade.
7- Como é feito o tratamento do HPV?
R.: Diferentemente
das bactérias, vírus não são destruídos por antibióticos. Atualmente não
existem medicamentos capazes de eliminar a infecção pelo HPV. O tratamento
dependerá do tipo de lesão e, no caso do câncer, da extensão da doença.
Tentar remover as verrugas genitais
manualmente nem sempre elimina o HPV e as lesões podem reaparecer. Tratamentos
com agentes químicos podem ser dolorosos, deixar cicatrizes e causar embaraço.
Podofilina e ácido tricloroacético são capazes de destruir as verrugas genitais
externas, embora várias aplicações possam ser necessárias. Dependendo do
tamanho, localização e quantidade das lesões outras opções terapêuticas podem
ser necessárias. São elas: Crioterapia (lesão por congelamento utilizando-se nitrogênio
líquido); eletrocauterização (lesão por corrente elétrica); laser (lesão por
calor).
O câncer de colo uterino em seus
estágios iniciais é tratado cirurgicamente. Esses procedimentos podem preservar
ou não estruturas fundamentais para manter a fertilidade feminina. A medida que
o tumor avança, as chances do tratamento levar a infertilidade aumentam.
Tumores mais avançados geralmente são tratados utilizando quimiorradioterapia.
8- Para quem cada uma das vacinas anti-HPV (bivalente e
quadrivalente) é indicada e quando a mulher pode tomá-la (a partir do início da
vida sexual ou a partir de uma certa idade)?
R.: Gardasil®,também chamada de
vacina quadrivalente, é ativa contra quatro subtipos de HPV: 6, 11, 16 e
18. Os dois primeiros são agentes etiológicos das verrugas genitais, enquanto
os subtipos 16 e 18 são os principais causadores do câncer de colo uterino e
canal anal. A vacina é aplicada em três doses ao longo de seis meses.
Usualmente a segunda dose é dada dois meses após a primeira e a terceira dose
quatro meses após a segunda. Gardasil está aprovada para a prevenção de câncer
de colo uterino e alguns tipos de câncer vulvar, vaginal, do canal anal e
verrugas genitais (condilomas). A faixa etária recomendada para a aplicação da
vacina é de 9 a 26 anos.
A Cervarix®, também chamada de bivalente, confere proteção
para dois subtipos de HPV oncogênicos: as cepas 16 e 18. Está aprovado seu uso
em mulheres de 9 a 25 anos para a prevenção de câncer de colo uterino. Sua
aplicação também se dá em três doses no decorrer de seis meses.
Se possível, a vacina deve ser aplicada antes do início da
vida sexual para conferir imunidade à mulher desde o primeiro intercurso
sexual.