Recomeçar, portanto, pode significar impor regras que antes não existiam
Janaína Spolidorio
Crises trazem também oportunidades e uma delas será a chance do recomeço na educação. Recomeçar, contudo, não significa ter que fazer igual ou igual com cara de diferente.
Para a educação, se não tomarmos cuidado, é exatamente o que vai acontecer: tentar fazer o que fazia antes, mas adequando ao modelo híbrido e isso é preocupante.
No ano passado tudo foi em cima da hora, atropelado para acontecer, mas em 2021 não temos nenhuma desculpa. Historicamente fazemos várias coisas que não dão certo, prova disso é que nunca a educação foi considerada de qualidade aqui, por uma série de fatores.
Recomeçar, portanto, pode significar impor regras que antes não existiam, mas precisavam ter acontecido e é, inclusive, muito melhor que assim o seja. Há uma série de aspectos que podem ser considerados para este passo ser novo na história da educação. Vamos conhecer alguns a seguir:
Família: a cada ano há um distanciamento entre família e escola. Elas não falam a mesma linguagem. Os pais muitas vezes têm uma expectativa que não corresponde à realidade na escola e a escola, por sua vez, faz até questão de dizer que “aprender é diferente da época em que estudaram”. Realmente pode ser diferente, mas quem reina é a habilidade e esta pode ser usada sempre, independentemente da época em que se estudou. Os pais podem sim ajudar e é papel da escola ensinar como orientar, para que um não entre no campo do outro invadindo e sim colaborando. Esta questão precisa ter ficado clara em 2020, para que em 2021 seja mais leve; porém, se a escola não cuidou deste vínculo, chegou a hora de fazê-lo. Oportunidades assim não devem ser perdidas!
Currículo: sinceridade é tudo! O que era ruim pode ficar pior. Há décadas o Brasil tenta adequar currículo, minimizar perdas, adequar os alunos ao conteúdo... e conteúdo é algo que emperra a escola. Se antes havia dificuldade de cumprir currículo porque não “dava tempo”, imagine agora, que provavelmente teremos que dar conta de conteúdos do ano passado, repassando e até ensinando do zero, dependendo do caso, e ainda conteúdos deste ano irão deixar todos ansiosos, apreensivos e querendo “cumprir o currículo”. É preciso ter em mente que não para o currículo que se ensina, é para ao aluno. As escolas terão que ser ultra flexíveis com os conteúdos, porque não é eles que interessam e sim as habilidades de aprender, as bases para aprendizagem que vão realmente contar. Um aluno que tem bases neurológicas de aprendizagem bem desenvolvidas dá conta de qualquer conteúdo que a escola queira trabalhar, independentemente do tema.
Livro didático: sim, ele é importante e faz parte do cotidiano acadêmico, mas prender-se totalmente a ele será prender-se também ao currículo. De nada adiantará trabalhar o livro do ano sem resgatar habilidades que teriam que ter sido trabalhadas antes. Flexibilizar livro será tão importante quando flexibilizar o currículo. Se a escola dividir em temas de habilidades o livro didático conseguirá pensar no que resgatar antes de trabalhar diretamente com o livro e os pais devem ter ciência de que pode ocorrer de nem tudo ser usado! Prioridade é aprendizagem, sempre!
Formação de professores: historicamente nossa educação tem resultados questionáveis porque historicamente também a formação é deficitária. Não apenas a formação dos professores, porque se você refletir, quando o professor entra na faculdade para aprender como ser professor, já vem de um sistema quase que falido. O parâmetro de educação que ele tem não é o que deveria ter, ele não conhece a qualidade. Recomeçar pode significar se entregar à formação e ensinar, na prática, o que tem qualidade e o que não tem. É preciso que o professor enxergue além dos horizontes de antes. A formação do professor é um grande passo para a qualidade da educação em geral. Só vivenciando a qualidade ele conseguirá transformar realmente seus alunos.
Neurociência em foco: se a pedagogia não der conta, é a neurociência que poderá entrar como elemento do sucesso. É preciso tomar cuidado com o tema, pois é até “modinha”. Isso significa que há em abundância oferta de pessoas que querem falar sobre ele, porém pouquíssimos sabem exatamente o que atingir na educação. A neurociência ajuda a entender o que se passa no cérebro e entendendo o interno fica muito mais fácil estimular o externo. O ideal seria usar recursos da neurociência pelo menos em algumas atividades para poder potencializar o estudo!
Há muito mais o que explorar, mas de início, recomeçar pode significar ver de outra maneira e é exatamente disso que precisamos! Que tal aproveitarmos a chance e darmos o primeiro passo para um Brasil muito melhor?
Janaína Spolidorio , especialista em educação, é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital.
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