Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil
A exposição Mário de Andrade – Cartas do Modernismo apresenta o desenvolvimento do modernismo a partir da relação íntima do escritor com seus amigos das artes plásticas, por meio das cartas que escreveu e recebeu de artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Cândido Portinari. Há ainda pinturas e desenhos desses artistas, além de uma série de fotografias que Mário fez na viagem ao Amazonas, em 1927. A exposição fica em cartaz até 15 de novembro, no Centro Cultural Correios de São Paulo, e tem entrada gratuita.
As cartas enviadas ao escritor pelos artistas, que eram entremeadas de desenhos e gracejos, revelam os bastidores da construção do ideário modernista, além das dores e amores de Mário de Andrade. “O objetivo é falar um pouco sobre o nosso modernismo e sobre o protagonismo do Mário nessa época, especialmente na primeira fase do movimento, entre 1922 e 1930″, disse a curadora Denise Mattar.
Ela contou que, embora muitos acreditem que o escritor tenha menor relevância no segundo período do movimento, de 1930 até 1945, isso não é verdade: “Na exposição, eu provo o contrário, porque o artista considerado o mais importante no ‘segundo modernismo’, que é Cândido Portinari, foi, na verdade, descoberto pelo Mário”.
Mário de Andrade conheceu a obra do amigo Portinari no Salão Nacional de Belas Artes, em 1931, quando se encantou com seu trabalho. Na época em que o escritor se mudou para o Rio de Janeiro, de 1938 até 1941, foi acolhido justamente por Portinari e por sua esposa, Maria Portinari. “Ele tinha uma correspondência muito expressiva com o Portinari”, contou Denise. Devido a essa relação entre os dois, a exposição tem muitas obras do artista plástico.
Ao longo dos anos, o escritor comprou e recebeu como presente muitas obras de arte, que estão armazenadas no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Algumas delas estão na exposição: As Margaridas de Mário, de Anita Malfatti, Mulher de Di Cavalcanti, desenhos e aquarelas de Cícero Dias, Ismael Nery, Portinari, Segall, Zina Aita, Augusto Rodrigues e Enrico Bianco.
Outras obras
Obras pertencentes a outras coleções relacionadas à história do escritor também estão presentes, como aMenina do Circo de Di Cavalcanti, La Chambre Bleue de Anita Malfatti e O Chapéu Azul de Tarsila do Amaral.
A correspondência de Mário de Andrade é reconhecida pelo expressivo volume e pela qualidade dos interlocutores envolvidos. A curadora selecionou 12 dessas cartas, transcreveu e imprimiu, chegando a um volume de 20 mil cartas que compõem uma das instalações da mostra. Isso porque estima-se que a correspondência do escritor tenha chegado a esse número. Cada visitante pode levar uma carta dessas para casa, mas precisa escrever e deixar outra destinada a Mário de Andrade.
Um dos destaques da exposição são as cartas gravadas em áudio por João Paulo Lorenzón, que acompanham obras de artistas como Anita e Tarsila, mostrando os diferentes tons que Mário usava para os seus correspondentes. Era mais carinhoso com Anita, caloroso com Portinari e apaixonado por Tarsila, de acordo com a curadoria. “Para cada pessoa que ele escreve, ele tem um tom diferente na carta”, disse Denise.
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