Luís Alberto Alves
Através do retorno da atriz transexual cubana
Phedra de Córdoba (do grupo teatral Satyros) a Havana depois de 53 anos sem
pisar no seu país, CUBA LIBRE coloca em discussão a luta pelos direitos dos homossexuais num
ambiente extremamente machista como a ilha governada durante décadas por Fidel
Castro, hoje comandada por seu irmão Raúl.
Nos primeiros anos da revolução cubana, os
homossexuais eram confinados em campos de concentração, onde eram obrigados a
cortar cana de sol a sol. Nos dias de hoje, foi criado um decreto pela filha de
Raúl Castro, Mariela (diretora do Centro Nacional Cubano de Educação Sexual e
uma ativista pelos direitos da comunidade LGBT), que obriga o respeito e a
aceitação de todos os gays. Convidada pelos Satyros, a equipe do filme chegou a
Havana no auge desse momento histórico em que os homossexuais estavam literalmente
tentando “sair do armário”, e a presença da musa Phedra de Córdoba foi marcante
nesse processo, tendo sido recebida até mesmo pelo ministro da cultura do país.
CUBA LIBRE mostra ainda a decadência da ilha, que “parece estar sentada sobre
um barril de pólvora”, como comenta em entrevista ao filme o dramaturgo
Reinaldo Montero, autor da peça Liz, que foi encenada pelos
Satyros, em Havana. O documentário foi rodado em locações ainda hoje
clandestinas (apesar do decreto assinado por Raúl Castro), como boates gays na
periferia da capital cubana, além de centros culturais que celebram datas como
o dia do orgulho gay e denunciam a repressão na ilha, relembrando momentos
históricos como Stonewall, em que muitos homossexuais, lésbicas e travestis
foram reprimidos num bar de Nova York, em 1969.
Conduzido pelo carisma da musa dos Satyros,
Phedra de Córdoba, CUBA LIBRE focaliza essa guinada histórica em Cuba, mas também está falando
do Brasil e do resto do mundo. Um filme que acompanha os passos de uma artista
transexual que, antes de entrar em cena, sempre se pergunta: “Será que eu sou
essa imagem no espelho ou será que essa imagem é o meu verdadeiro eu?”. Phedra
criou uma personagem para si mesma e moldou-a em carne e osso, com o próprio
corpo.
Em CUBA LIBRE, Phedra, está em busca do próprio
passado, apesar de seus entes queridos já estarem todos falecidos, e também de
locais que marcaram sua vida, como o palco onde pisou pela primeira vez e
descobriu a sua verdadeira vocação de artista. O filme é ainda um acerto de
contas com um passado de repressões e discriminações, mas sem perder a ternura
jamais.
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