*Dr. Tomyo Arazawa
Estudos indicam que cerca de 15% das mulheres vão apresentar dor pélvica em algum momento da vida. Cerca de 33% será decorrente de endometriose ou outras causas ginecológicas, mas quase 40% das laparoscopias para avaliação de dor pélvica não recebem diagnóstico específico ou podem envolver diversas doenças combinadas.
Dor, definitivamente, não é uma das melhores sensações para se ter. Ao contrário, por vezes, pode ser até paralisante. Quem não se lembra de uma dor de dente enlouquecedora na adolescência? Uma dor de cabeça que impede de compartilhar momentos felizes com familiares ou amigos? Ou mesmo do choro incessante do bebê quando está com cólica? Não importa o momento da vida ou onde ela se manifesta, dor sempre é sinal de que algo não está funcionando bem. Imagine, então, uma dor incessante?
Conviver com uma dor prolongada interfere não apenas na saúde, mas em diversos setores, como o pessoal e o profissional, e por isso deve ser investigada. Dentre os tipos de dores que acometem as mulheres, uma tem se destacado nos últimos anos: a dor pélvica crônica, caracterizada por sensação dolorosa persistente (duração superior a três meses), na parte inferior do abdômen, que pode se manifestar ao urinar, ao ter relações sexuais ou, talvez, se intensificar durante o período menstrual. “Não se trata de uma doença, mas de uma síndrome que se pode verificar em diferentes enfermidades. Ela ocorre em homens e em mulheres, podendo ter causas e repercussões diferentes em ambos os sexos”, afirma Tomyo Arazawa, ginecologista da Alira Medicina Clínica.
Estudos indicam que cerca de 15% das mulheres vão apresentar dor pélvica em algum momento da vida e ela ocorre com frequência em idade reprodutiva. A maior parte dos casos será decorrente de endometriose (cerca de 33%) ou outras causas ginecológicas. Porém, quase 40% das laparoscopias para avaliação de dor pélvica não recebem diagnóstico específico ou podem envolver diversas doenças combinadas. Por isso, é preciso escolher um especialista que faça uma cuidadosa investigação sobre as causas e, muitas vezes, será necessário combinar atuação interdisciplinar, na qual mais de um especialista trabalha em conjunto para a melhora da paciente.
A origem da dor pode ser visceral (órgãos internos) ou somática (músculos, ossos, ligamentos), com envolvimento dos sistemas musculoesquelético, ginecológico, urológico ou gastrointestinal. “As particularidades da dor se diferenciam de mulher para mulher. Algumas apresentam dor moderada, que aparece e some de repente. Já outras, sentem dor severa e contínua, que prejudica o sono, a qualidade de vida e o trabalho”, diz o ginecologista.
Para Arazawa, o aspecto psicossocial tem grande importância nos casos de dor pélvica crônica. Aproximadamente 50% das paciente têm quadro de ansiedade e/ou depressão associado. Distúrbios do sono e distúrbios alimentares também são frequentes. Apesar de não causarem a dor pélvica, todas essas alterações psicossociais interferem na forma em que o cérebro percebe a dor pélvica, assim como na intensidade da dor percebida pela paciente.
O tratamento vai depender do que está originando o quadro de dor. Por isso cada caso deve ter uma abordagem individualizada. Mas, para garantir um tratamento adequado, é preciso antes fazer o diagnóstico correto, que nem sempre é fácil ou simples de se fazer. Por isso, muitas mulheres com dor pélvica crônica demoram meses e até anos para terem um diagnóstico. A boa notícia é que na maioria dos casos é possível obter uma melhora significativa da dor e recuperar a qualidade de vida.
*Dr. Tomyo Arazawa é ginecologista e obstetra da Alira Medicina Clínica. Especializou-se em cirurgias minimamente invasivas como cirurgias robóticas, video-laparoscópicas e video-histeroscópicas (os quais incluem as cirurgias de endometriose), e em medicina reprodutiva. É membro da Sociedade Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (SOGESP), da American Society for Reproductive Medicine (ASRM), da American Association of Gynecologic Laparoscopists (AAGL) e da International Pelvic Pain Society (IPPS).