* Dra. Karina A. P. Leite Calderoni
De acordo com um
levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 3% da
população brasileira, equivalente a 4 milhões de pessoas, acima de 15 anos é
considerada dependente do álcool.
O estudo divulgado
em 2014 alerta que cerca de 3,3 milhões de pessoas morreram em 2012 por causa
do álcool, o que representa 6% de todas as causas de morte registradas no
mundo.
O caso do estudante
universitário que faleceu aos 23 anos no interior de São Paulo após uma parada
cardíaca, causada por um coma alcoólico depois de beber 25 doses de vodca, nos
faz refletir como está a relação do jovem brasileiro com o consumo de bebidas alcóolicas.
A adolescência e a
juventude são caracterizadas por traços como: imediatismo, busca por novas
sensações, inconsequência, necessidade de quebrar regras e testar limites, ou
seja, a fase é um fator de risco para o uso do álcool.
Quanto mais cedo é
o início do consumo de bebidas alcoólicas, maiores são as complicações sociais,
educacionais e relacionadas à saúde. Estudos têm mostrado que consumo de
bebidas na juventude acarreta consequências nas funções executivas, como:
memória, atenção e planejamento. É preciso também levar em conta que o cérebro
do adolescente ainda está em formação, consequentemente, o uso abusivo de
álcool nessa fase influencia no amadurecimento cerebral e cognitivo.
A OMS destaca o
Brasil negativamente com a alta taxa de 12,2% da população que bebe grandes
quantidades de uma só vez, sendo que a média mundial é de 7,5%. Para a
Organização Mundial da Saúde, o consumo de mais de 6 doses em uma única ocasião
é considerado abusivo.
É uma
característica da adolescência e do início da fase adulta a busca e construção
de uma nova identidade, portanto a necessidade de autoafirmação é algo natural
desse período. No entanto, alguns jovens associam o uso de álcool a uma ideia
de força, de ser adulto, de se destacar perante o grupo social, ou seja, como
uma forma de reafirmar essa nova identidade.
A forma como a
pessoa enxerga o uso de álcool e seus efeitos influencia o padrão de uso. Os
jovens em geral esperam que, ao beber, ficarão mais desinibidos, sociáveis e
com maior integração ao grupo. Além disso, a influência dos amigos ou colegas e
uma visão positiva dos pais sobre o consumo da bebida alcóolica também
influencia o uso dos filhos.
A dificuldade dos
pais em colocar limites e regras para seus filhos, o ambiente familiar
conflituoso, famílias que pouco conversam, pais que não acolhem ou ouvem as
necessidades emocionais dos filhos também são fatores de risco para o uso
nocivo de álcool. A sociedade atual tem valorizado aspectos como imediatismo,
busca pelo prazer, tendência a quebrar regras, também contribuindo para esse
quadro.
O consumo de
bebidas alcoólicas está banalizado, pois em geral, o álcool é visto como fator
de integração social entre as pessoas, associado a momentos de prazer e
diversão, de fácil acesso, baixo custo e aceito socialmente. No entanto, ao
mesmo tempo em que isso ocorre, a visão que se tem das pessoas com problemas
relacionados ao álcool, como os dependentes do álcool, é extremamente negativa.
Os jovens recebem a mensagem de que é bom e positivo beber, mas não têm a
habilidade de medir as consequências negativas que podem ter quando se passa
para um uso abusivo.
Adolescentes e
jovens adultos com ansiedade, depressão, hiperatividade, personalidade
impulsiva, alta busca por novidade e dificuldade de evitar danos têm maior
propensão ao uso abusivo de bebidas alcoólicas do que os demais.
O histórico
familiar de alcoolismo aumenta a chance da pessoa desenvolver problemas com
álcool. Filhos de alcoolistas têm risco 4 a 10 vezes maior de ter esse tipo de
problema se comparados com quem não tem histórico familiar de alcoolismo.
A juventude é uma
fase de sensações exacerbadas e muito intensa, por isso deve ser bem dirigida e
o acompanhamento dos pais é indispensável. Afinal, a cautela não torna a vida
tediosa.
*Dra. Karina A. P. Leite Calderoni é médica psiquiatra, especialista em dependência química e
sócia-fundadora da Clínica Sintropia