Ficava vidrado ao cortar o torresmo e ver a gordura escorrer
no prato
Astrogildo Magno
Juca adorava comida gordurosa. Fã de torresmo de rolo, encomendava
num boteco da Zona Norte de SP, às vezes 2 kg desta iguaria. Ficava vidrado ao
cortar o torresmo e ver a gordura escorrer no prato. Dizia que falta de gordura
no seu prato era comparado a casamento sem sexo. Recusava os conselhos dos
médicos alertando para o risco de doenças cardíacas provocadas pelo alto
consumo de carne com excesso de gordura.
Com 1,90 metro de altura, braços e pernas musculosos,
conseguia correr 20 quilômetros todos os dias, antes de enfrentar o congestionamento
da Avenida Tiradentes rumo ao Centro de SP. A sua saúde era de ferro. Na cama,
a esposa Cintia reclamava do seu apetite amoroso. Não dava sossego para ela,
mesmo após mais de 25 anos de casados e dois filhos jovens. Ambos gerados nas
calorosas noites de amor.
Porém na vida existem surpresas, principalmente as
desagradáveis, daquelas que retiram a alegria do nosso caminho. Mesmo quando
tentamos evitar sentir esse amargo sabor, ele insiste e permanece em nossos
lábios. Logo começou a sentir dormência no rosto, braços e pernas; tinha confusão
e dificuldade para falar ou para entender, enxergar com um ou ambos os olhos e
passou a apresentar perda de coordenação. Juca começou a pagar o preço dos
abusos cometidos na hora de comer e igual peixe corria o risco de morrer pela
boca....
Astrogildo Magno é cronista
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