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segunda-feira, 18 de abril de 2022

Chumbo quente: Torturadores precisam ser condenados e presos!

 

A máquina de dar choque, tenebrosamente conhecida como “pimentinha”, ao girar a sua manivela, liberava descarga elétrica

Neste prédio morou um dos acusados de torturar o metalúrgico Manoel Fiel Filho no DOI/Codi em 1976


Luís Alberto Alves/Hourpress

O acusado de ser opositor ao Regime Militar de 1964, quando caia na casa de horrores, na Rua Tomaz Carvalhal, nº 1.030, Paraíso, Zona Sul de São Paulo, a poucos metros do Parque Ibirapuera, estava entrando no inferno. Sem roupas e descalço era pendurado no pau de arara.

Tinha vários fios elétricos desencapados amarrados no pênis, orelhas, língua, enfiados embaixo das unhas dos pés e mãos e logo começavam o interrogatório. “Quero fulano de tal”, gritava o torturador, geralmente PM, delegado ou investigador ou militar do Exército, Marinha ou Aeronáutica.

A máquina de dar choque, tenebrosamente conhecida como “pimentinha”, ao girar a sua manivela, liberava descarga elétrica por alguns segundos, mas suficiente para vítima balançar na barra de ferro em que estava pendurado através do vão de suas pernas amarradas sob um cavalete ou duas mesas que serviam de suporte. O organismo reagia liberando urina ou fezes.

Sofrimento

Às vezes a sessão de tortura durava horas, com o preso desmaiando várias vezes. Para acelerar o sofrimento, os torturadores agrediam o suspeito com uma pesada palmatória, nas articulações dos braços e pernas, e também nas costas, na região dos pulmões e rins. Poucos conseguiam resistir muito tempo, sem confessar algo. O sofrimento contribuía.

A cada descarga elétrica, a morte passeava na sala de horrores onde funcionou o famigerado DOI/Codi  (órgão de investigação da ditadura militar de 1964 que matou inúmeros opositores). Dessa equipe de troglodita pertenceu, segundo o grupo de Direitos Humanos Tortura Nunca Mais, o delegado Edevarde José, já falecido, que em 16 de janeiro de 1976, então com 45 anos, ao lado do tenente da PM, Tamotu Nakao, que se mudou para Ribeirão Preto (SP), torturar e matar o metalúrgico Manoel Fiel Filho.

Por causa da Lei de Anistia, aprovada no final da década de 1970, ele e outros acusados de tirar a vida de inúmeros opositores do Regime Militar de 1964, escaparam da prisão. O que não ocorreu no Chile, Argentina e Uruguai. Durante os seus últimos anos de vida, Edevarde viveu no apartamento 23, da Rua Brigadeiro Galvão, 247, Barra Funda, Zona Oeste. Talvez muitos moradores nunca prestaram atenção naquele velhinho de 85 anos, em 2016, tomando café na padaria da esquina.

Terroristas

Desconhecia que ele, na década de 1970, principalmente no período entre 1973 e 1977, fazia parte do grupo de trogloditas usado pelo ditador de plantão Ernesto Geisel, no comando do País, naquela época, para através do sofrimento arrancar confissões dos opositores, denominados pelo regime, como terroristas. Neste time estavam inclusos jornalistas, metalúrgicos, estudantes universitários como Alexandre Vannuchi, políticos cassados, sindicalistas.

Sem comer, beber e com sono (não permitiam os presos dormirem), os suspeitos, segundo a Ditadura de 1964, eram torturados horas e até dias. As mulheres eram abusadas sexualmente. Depoimentos de algumas delas, relatam que alguns torturadores sentiam prazer em se masturbar e espalhar espermatozoide sobre os locais machucados das vítimas. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, após ser emissário de satanás na vida dos torturados, aos domingos assistia culto na igreja Metodista, onde era membro.

É triste ouvir do vice-presidente Mourão, em tom de ironia, que os torturadores que fizeram o trabalho sujo da Ditadura, não podem ser presos, porque agora são cinzas.  Ele sorriu ao saber da recente descoberta de aproximadamente mais de 10 mil áudios de conversas de ministros do Supremo Tribunal Militar (STM) a respeito das vítimas que passavam por aquele órgão, acusadas de crimes contra o regime militar. Essa página precisa ser virada, com a punição desses assassinos. Alguns estão vivos, já com cerca de 90 anos. Nazistas, com essa idade, quando presos, são condenados.  No Brasil, precisa ocorrer o mesmo.

Luís Alberto Alves, jornalista e editor do blogue hourpressradio.com.


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