Sociedade moderna e educação patriarcal comprometem a saúde mental feminina
Redação/Hourpress
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Estudos comprovam e apontam que as mulheres têm mais chances que os homens de desenvolverem transtornos mentais - principalmente depressão e ansiedade - e, na adolescência, é muito comum que elas sofram, por exemplo, com os transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.
Alguns fatores podem explicar essa predisposição maior do público feminino para o surgimento de algumas condições psiquiátricas e eles envolvem aspectos histórico-sociais, biológicos e a vida moderna.
Entre os fatores biológicos está a flutuação hormonal, que toda mulher enfrenta durante a vida, sobretudo no período da TPM (Tensão Pré-Menstrual), quando muitas apresentam uma importante instabilidade emocional, que pode aparecer também no pós-parto, com risco para o surgimento do quadro depressivo, e na entrada à menopausa, que afeta a saúde mental feminina.
Dentre os aspectos histórico-sociais podemos citar a educação patriarcal das crianças, que incentiva, desde cedo, a menina a ser mãe, a cuidar da casa, a vivenciar as questões emocionais, enquanto os meninos crescem com o clássico "homem não chora", "homem tem que ser forte".
Outro fator é a sobrecarga da vida contemporânea. Hoje, apesar de vivermos em uma sociedade moderna na qual a mulher trabalha fora e tem sua independência financeira, ainda é muito internalizada a questão da maternidade e do sentimento feminino de cuidar do outro.
Então, em muitos casos, a mulher ainda acredita que ela precisa se casar, ser mãe, estar atenta às tarefas domésticas, ao marido, aos filhos, trabalhar fora, e dar conta disso tudo sozinha, o que é impossível. E isso pode resultar em um acúmulo muito grande de frustrações, de sentimento de culpa, por se achar insuficiente, além da forte exaustão emocional e física ocasionada por essa pressão social intensa.
As mulheres ainda exercem cargos inferiores e ganham menos que os homens, apesar da cobrança ser a mesma. No ambiente de trabalho, elas sofrem pressões psicológicas e lutam de maneira desigual para mostrar seu desempenho, porque persiste, infelizmente, a crença de que o homem tem uma eficácia maior do que a mulher.
A psicóloga da Clínica Maia, Dolores Pinheiro Fernandez, acredita que os papeis que a sociedade espera que uma mulher desempenhe - mãe, dona de casa, profissional competente que também tem que complementar a renda familiar, mulher magra, sempre realizada, bem vestida - são irreais.
Para reverter esta situação, Dolores acredita que a conscientização é um caminho para que as mulheres tenham mais qualidade de vida. "A primeira questão é que precisamos mostrar às mulheres que elas não vão dar conta de todas as funções que a sociedade espera que ela desempenhe. A sociedade precisa entender que as tarefas dentro de casa têm que ser divididas: a educação dos filhos, o preparo dos alimentos e a organização do lar não podem ficar somente na mão da mulher. E o mais importante, ela precisa ter um tempo de lazer só para ela".
A especialista alerta que é preciso ter atenção aos sinais de tristeza, fadiga, enxaqueca, mudanças no hábito alimentar, e buscar o acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, quando necessário.
"O que eu digo muito para minhas pacientes é que a sobrecarga é grande e está tudo bem não dar conta de tudo. É preciso aceitar a nossa realidade e perceber quem nós realmente somos, e não o que a sociedade espera. Procure ajuda, se preciso, busque qualidade de vida, tenha momentos de lazer, de relaxamento, momentos para você, mulher", finalizou a psicóloga.
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