Ficar isolado pode gerar sentimentos e sensações de tédio
*Bruno Vieira
O mundo passa por um período sombrio e assustadoramente perigoso com uma pandemia que tem matado e adoecido fisicamente e mentalmente milhares de pessoas em diferentes países. Sabemos dos cuidados que temos que ter quanto à higienização, principalmente das mãos, e a necessidade de cumprir o período de quarentena para a nossa proteção e do próximo. Mas, o que muitos não têm se atentado é que, viver em isolamento social e constantemente apavorado com o que ainda está por vir, pode ser, também, muito danoso à saúde.
De acordo com um estudo publicado pela revista especializada East Asian Arch Psychiatry, 42% dos sobreviventes da última epidemia que matou mais de 800 pessoas pela Sars (síndrome respiratória aguda grave) entre 2002 e 2003, desenvolveram algum transtorno mental. Do total, 54,5% manifestou transtorno de estresse pós-traumático e 39% tiveram depressão. Com isso, é possível deduzir que, com a gravidade do novo coranavírus e o período indeterminado de quarentena, esse quadro poderá ser ainda pior. Ficar isolado pode gerar sentimentos e sensações de tédio, solidão e até mesmo raiva -- sofrimentos psíquicos que podem levar a transtornos de ansiedade, ataques de pânico e depressão. Mas, cuidar da mente em tempos de tantos medos e incertezas é possível. Primeiramente, é preciso trazer a rotina externa para dentro da casa, manter hábitos e atividades em um cronograma diário. É possível colocar tudo no papel, estipulando o que será realizado no período da manhã, tarde e noite ou de forma mais detalhada como hora para almoçar, trabalhar, estudar, ler um livro, realizar tarefas domésticas e assistir televisão. O importante é não ficar ocioso -- já dizia o velho ditado "mente vazia, oficina do diabo". Para quem tem uma rotina regrada e muitas vezes exaustiva de exercícios físicos, como atletas e jogadores de futebol, é preciso manter os horários e fazer os treinos com muito foco -- o que é feito de atividades em uma hora e meia dentro do campo, por exemplo, necessitaria de três horas dentro da própria residência, afinal, será preciso lidar com as distrações familiares e comodidade do lar. Fazer uma pausa na carreira/trabalho, mesmo que seja de forma indesejada como essa, pode afetar, de maneira drástica, o emocional de qualquer um. Por isso, a organização e o foco são fundamentais. Não podemos esquecer que, em meio a tantas suposições e "fake news", é preciso dosar o que é lido na internet. Se perceber que a rede social está com aquele "feed" carregado de notícias ruins, com publicações descrevendo números catastróficos quanto aos óbitos, vídeos e imagens que podem deixam qualquer um transtornado, desconecte-se. Dê um respiro e um momento de paz para a sua mente. É preciso estar informado, mas com cautela. Lembre-se, este momento vai passar. Mas, é necessário que todos entendam que respeitar o período de quarentena não significa ficar parado, desocupado. Fique em casa, proteja os idosos e todos que estão no grupo de risco, mas continue em contato com amigos e familiares. Se relacionar, mesmo que de forma virtual, com outras pessoas é fundamental para manter o equilíbrio da mente. |
*Bruno Vieira é psicólogo e possui especialização em Psicologia e Desempenho Esportivo pelo FC Barcelona
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