A infância é a melhor época para aprender outro idioma |
Redação
É possível - e saudável – ensinar um segundo
idioma a uma criança? Ensinar inglês em paralelo com o aprendizado da língua
portuguesa pode gerar algum tipo de confusão nos “pequenos”?
Muitas são as dúvidas em torno do chamado
bilinguismo durante a educação na primeira infância. Afinal, é cada vez maior a
oferta de escolas dedicadas a esta prática e a quantidade de pais que desejam
poupar seus filhos dos percalços em aprender um novo idioma em idade mais
avançada. Mas, há vantagens para as crianças?
De acordo com a diretora da rede de franquias
The Kids Club, Sylvia de Moraes Barros, especialista no assunto, são muitos os
benefícios deste método. “Todo ser humano nasce com o cérebro pronto para
aprender línguas. Esta habilidade é mais aguçada entre os dois e quatro anos de
idade e, conforme os anos vão passando, a capacidade de aprender novos idiomas
com facilidade vai se perdendo”, esclarece. “Se o cérebro é estimulado a
aprender novas línguas nos primeiros anos, ele responde imediatamente ao
estímulo e vemos o aprendizado de idiomas em crianças acontecer de maneira
rápida e extremamente eficiente. E o mais importante: sem que a criança tenha
tido dificuldades durante o processo.”
Sylvia explica, ainda, que o estímulo ao
cérebro infantil também traz vantagens cognitivas importantes; melhora o
raciocínio; a capacidade de concentração e de memorização; ativa as conexões
cerebrais e faz até com que a criança passe a usar melhor sua primeira língua.
“Devemos sempre ensinar uma nova língua a uma criança da mesma forma que ela
aprendeu a primeira, ou seja, por meio da sua exposição ao idioma de maneira
lúdica e dentro de um contexto compreensível a ela. Crianças não têm qualquer
resistência ao aprendizado e realmente absorvem o que lhes é ensinado de
maneira extremamente eficiente, desde que aquele conteúdo lhes faça sentido”,
observa.
Para a diretora da The Kids Club, muitos são
os questionamentos sobre o bilinguismo porque esta é uma prática relativamente
nova no país. Além disso, ainda há falta de informação sobre o tema. “As
pessoas que não conhecem o assunto a fundo ainda têm preconceito e acham que
este processo atrapalha as crianças. Mas este pensamento está completamente
errado”, afirma Sylvia.
O que concluir, então, sobre o processo do
bilinguismo na infância? Confira alguns mitos e verdades compartilhados e
devidamente esclarecidos pela diretora do The Kids Club.
(X)
Mito: A alfabetização bilíngue gera confusão com a língua materna.
O
cérebro humano é capaz de aprender diversos idiomas e armazená-los de forma que
cada um seja acessado independentemente quando estimulado. O que acontece
é que, durante o processo de aprendizado, uma criança pode misturar dois
idiomas em uma mesma frase. Isso ocorre não porque ela está confundindo, mas
porque ela está aprendendo da maneira correta. O cérebro escolhe sempre o
caminho mais fácil e eficiente para realizar a tarefa que precisa. Se uma
criança brasileira que está aprendendo inglês quer falar uma palavra e aquela
palavra (em inglês) foi realmente aprendida e internalizada pela criança, o
cérebro pode acessar a palavra em inglês de forma mais rápida que a palavra em
português. Isso é parte do processo natural de aprendizado. Com o tempo, o
aluno aprende a usar cada idioma separadamente.
(✓) Verdade: Aprender inglês em tenra idade
evita o sotaque.
Sim,
porque nosso aparelho fonador (boca e língua) ainda está em formação e, por
isso, é capaz de reproduzir qualquer som. Conforme o tempo passa, esta
capacidade se perde. Quando chegamos à idade adulta, perdemos a capacidade
até de distinguir certos sons que não fazem parte da nossa língua materna, o
que na infância não acontece. Crianças têm maior capacidade para distinguir e
reproduzir fonemas, o que permite a perfeição na pronúncia.
(X)
Mito: Há conflitos gramaticais em aprender duas línguas ao mesmo tempo.
Não,
pois cada idioma tem suas regras gramaticais que são ensinadas
separadamente. Em uma escola bilíngue, como o nome diz, ensinam-se duas
línguas. Portanto, a gramática de português é ensinada em português, e a
gramática de inglês, em inglês. Além disso, deve-se respeitar a ordem
natural de aprendizado de um idioma, ou seja, seguir o mesmo caminho que
percorremos em nossa primeira língua: primeiro, aprendemos a falar, depois, aprendemos
a escrever o que já falamos e, por último, aprendemos as regras gramaticais do
que já falamos e escrevemos! O aprendizado da gramática deve ser a última
etapa do processo.
(✓) Verdade: É mais difícil esquecer a segunda
língua quando ela é aprendida na infância.
Se
o aprendizado é feito de forma apropriada e natural, o conhecimento pode ficar
adormecido, mas não é esquecido. O aprendizado de idiomas é a melhor e mais
saudável forma de se estimular o cérebro de um ser humano. Existem
pesquisas que comprovam até que pessoas bilíngues tem menos chance de ter
doenças mentais na terceira idade. A infância é a melhor época para se aprender
idiomas e é a fase que podemos ensinar o aluno a gostar de aprender línguas,
tornando-o, assim, um eterno aprendiz.
(X) Mito: O bilinguismo pode causar
traumas e constrangimentos nas crianças.
As
crianças não apresentam qualquer tipo de resistência ou interferência no
processo de aprendizado, o que torna o método natural, fácil e bastante
prazeroso. Há transtornos apenas se o ensino ocorrer de forma inapropriada. O
correto é ensinar de forma lúdica, leve e divertida, fazendo com que a criança
não perceba que está aprendendo e que se relacione com o novo idioma sempre
como algo fácil e divertido.
(✓) Verdade: Pais bilíngues ajudam no processo
de aprendizado das crianças.
Sim,
pais que são nativos de países diferentes podem e devem falar com seus filhos
nas duas línguas. Esta é a forma mais eficiente de se criar crianças
bilíngues. A criança que ouve dois idiomas em casa desde o nascimento,
cresce falando os dois fluentemente e alterna o idioma que fala com o pai e com
a mãe de forma automática. Mas isso tem que ser natural. Só funciona bem
quando os pais são realmente nativos no idioma.
Filhos
de pais que falam o mesmo idioma e estão aprendendo outra língua em sala de
aula necessitarão um pouco mais de tempo para adquirir o conhecimento no idioma
a ponto de se tornar bilíngue, pois tudo depende da quantidade de exposição à
língua. Porém, se os pais são brasileiros, por exemplo, mas sabem
falar inglês, podem estimular o aprendizado do filho envolvendo-se com o que
ele está aprendendo, interessando-se, aprendendo as músicas que ele aprende,
contando histórias em inglês, etc... Esperar que pais brasileiros falem
inglês o tempo todo com seus filhos é uma situação forçada que não dá
resultado, pois é muito difícil de ser levada a diante.
(X) Mito: O bilinguismo pode
comprometer o aprendizado da língua materna ou diminuir o interesse por ela.
Este
risco não existe. A língua materna é a língua do coração, a que a família
fala e é a primeira que a criança vai aprender. Nada pode comprometer este
aprendizado. O cérebro da criança tem a capacidade de acomodar todos os
conhecimentos sem prejudicar um para garantir o outro. Crianças que
aprendem inglês em sala de aula a partir dos dois anos não têm qualquer
problema em relação à fala do idioma materno, pelo contrário! Estudos e
experiências nos mostram que quem começa a aprender um segundo idioma passa a
usar melhor seu primeiro idioma.
(X) Mito: Crianças bilíngues têm
atraso no desenvolvimento da fala?
Isso
depende muito da criança. Algumas crianças de pais que falam dois idiomas
diferentes podem demorar um pouco mais que o normal para começar a falar, mas,
quando começam, falam os dois idiomas fluentemente. Isso não é um
problema, mas apenas uma acomodação maior do cérebro aos dois idiomas. Em
se tratando de crianças que estão aprendendo um segundo idioma em sala de aula,
este risco não existe. O que acontece é exatamente o contrário, ao
aprender um segundo idioma, a criança fica ainda mais estimulada a falar.
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