Muitas pessoas falam palavras sem conhecer seu significado |
*Alfredo
Castro
Ouvir termos em inglês e outros específicos de
uma área ou setor é inevitável quando estamos participando de uma reunião de
negócios. A globalização, a democratização da tecnologia e a grande
disponibilidade de informações que há atualmente fazem com que esta seja uma
situação corriqueira. Mas, como saber se o uso desses termos estrangeiros ou
específicos de uma determinada área são realmente necessários ou estão sendo
usados em excesso?
Para Alfredo Castro, sócio-diretor da MOT – Treinamento
e Desenvolvimento Gerencial –, empresa especialista em desenvolver talentos, a
linguagem corporativa pode tanto ajudar a melhorar a comunicação quanto criar
barreiras entre as pessoas, dependendo da forma e do contexto como é usada. “Algumas
atividades têm muitos jargões específicos, como é o caso da área de TI, por
exemplo. Isso é efeito direto da globalização. Por outro lado, hoje temos muito
mais conhecimento disponível, o que nos dá a sensação de que qualquer um pode
saber sobre diversos assuntos, o que não é verdade. Por isso, é preciso ter
muito cuidado ao usar termos desconhecidos no discurso, para que eles expressem
com exatidão o que se quer dizer”, ponderou.
Ele ressalta, também, que muitas vezes uma
mesma palavra pode ter significados diferentes, dependendo da área e do
contexto como está sendo aplicada. É o caso da palavra “prêmio”. Em
geral, ela tem um sentido de recompensa, mas se aplicada ao mundo dos seguros,
seu significado é o de pagamento do segurado ao segurador. Assim,
dentro da linguagem corporativa, existem vários “idiomas”, com jargões
específicos. Na opinião do especialista, esses jargões podem servir para
intercambiar ideias mais facilmente ou apenas demonstrar poder sobre outras
pessoas, uma atitude arrogante e negativa que prejudica o trabalho em equipe.
Vantagens – “Os termos técnicos e os jargões têm uma
grande vantagem. Eles são específicos, ajudam a estabelecer conceitos. Seu uso
não apenas é normal, como também é saudável, pois facilita a comunicação entre
as diversas pessoas da mesma área”, diz Castro. Segundo ele, quando utilizados
dentro de um contexto, essas palavras significam um grande ganho.
O especialista lembra que esta é uma
característica própria da cultura: a capacidade de uma pessoa perceber-se
conectada à outra, dentro de um contexto. Assim, esse tipo de linguagem, mesmo
que específica, pode ajudar a construir a história de uma empresa. “Falar a
mesma língua” e usar termos em comum estabelece uma sincronia entre seus mais
diversos funcionários.
Isso pode ser muito positivo em uma realidade
na qual, muitas vezes, as pessoas trabalham fisicamente em lugares diferentes.
Assim, haverá uma “conexão cultural”, que é o princípio do Storytelling. De
acordo com Castro, é a partir dessa linguagem que a empresa contará sua
história e poderá envolver seus funcionários. “São como rituais de inclusão e
pertencimento que acontecem por meio da linguagem corporativa”, definiu Castro.
O
lado negativo – O reverso dos benefícios que
uma linguagem cheia de termos específicos pode ser deflagrado quando, por
exemplo, há uso demasiado desses jargões. Muitas vezes, a pessoa fala uma
palavra sem saber exatamente o que significa, apenas para repetir algo que
ouviu e achou interessante e para mostrar aos outros um conhecimento que,
muitas vezes, não tem.
O especialista diz que, nesses casos em que se
detecta uma atitude arrogante, há ainda outro risco: o do uso indevido ou
equivocado de algumas palavras, o que pode provocar falhas na comunicação e
erro nos processos.
“O
excesso pode significar que a pessoa que está falando usa esse tipo de
linguajar apenas para mostrar que sabe mais que outras pessoas da equipe e que
quer travar uma luta de poder. Ela geralmente faz isso para tentar se colocar
em um patamar superior ao dos outros, ou para intimidar sua equipe”, alertou.
“Idioma
nativo” – Castro conta que, para evitar
esse tipo de situação, a MOT tem levado essa reflexão para seus treinamentos de
liderança. Ele defende que o bom gestor deve se acostumar a usar a linguagem
própria daquela área, para que ele faça isso adequadamente, entendendo o
significado exato de cada termo naquele contexto específico.
Como, atualmente, no mundo corporativo, é
comum que pessoas de outras áreas passem a fazer parte de uma equipe
específica, é muito importante inteirar-se desse vocabulário novo, para poder
expressar-se adequadamente e estabelecer uma comunicação eficaz e eficiente.
Assim, um gestor de pessoas pode não ser “nativo” do “idioma” falado na área de
TI, por exemplo, mas ele precisa conhecer a aplicação de cada jargão para ser capaz
de se integrar àquela equipe.
“É como contar a história da Chapeuzinho
Vermelho, cuja mãe a previne de ir pela floresta. Pessoas que vivem em um
deserto, teoricamente, nunca viram uma floresta. Então, não saberão quais
seriam os perigos de a personagem ir por esse caminho. Já se a história for
contada para um povo que vive na floresta, para eles, esse ambiente poderá até
mesmo parecer mais seguro, pois é bem-conhecido por todos. Precisamos usar uma
linguagem adequada a cada interlocutor”, exemplificou.
Por isso, é preciso que o líder se esforce
para aprender e apreender a realidade que o cerca. É preciso ter humildade,
assumindo que há aspectos daquela área que ainda não domina. E não ter vergonha
de perguntar o significado de cada expressão nova para o maior número de
pessoas possível. Só assim poderá ter mais exatidão na definição de cada termo.
Segundo Castro, essa é uma habilidade que pode
ser desenvolvida por meio de treinamento. “O líder tem que aprender a apreender
para poder fazer parte daquela equipe, compartilhar daqueles conhecimentos e se
conectar àquela cultura”, afirmou.
*Alfredo Castro é especialista em gestão, consultor,
autor e palestrante internacional. Assim pode ser definido Alfredo Castro,
profissional com formação multidisciplinar (Finanças, Recursos Humanos,
Marketing e Liderança), com uma trajetória profissional em vários países e em
segmentos diferenciados.
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