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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Aproximadamente 20 milhões de pessoas trabalham no período noturno


Redação
São vários serviços que funcionam durante a noite e a sociedade já está acostumada aos serviços disponíveis 24 horasFoto: ACS/Débora Santos-Da esq.p/dir.,Eliane Loeff; Frida Fischer, Tereza Ferreira e Jefferson Silva
A Coordenação de Educação (CEd) da Fundacentro convidou a doutora Frida Marina Fischer para discorrer sobre “Trabalho e Saúde na sociedade 24 horas”, no auditório Edson Hatem do Centro Técnico Nacional, em Pinheiros - SP.
O tecnologista Jefferson Peixoto da Silva, e a técnica Eliane Vainer Loeff, ambos da CEd/SAE da Fundacentro, organizaram o evento. Além dos organizadores, a mesa de abertura do evento contou com a participação da diretora técnica substituta, Tereza Luiza Ferreira dos Santos.
A palestrante doutora Frida Fischer é presidente da Working Time Society, sociedade científica que estuda o tema sobre jornada de trabalho e questões ligadas a saúde e bem estar do trabalhador. “Estudo esse tema desde a década de 70. Além disso, em 1980, a Fundacentro atendeu uma solicitação do diretor da instituição Diogo Pupo Nogueira que, na época, foi o meu orientador e publicou a minha dissertação de mestrado”, informa. O título da dissertação é “Trabalho em Turnos: alguns aspectos econômicos, médicos e sociais”.
Para Frida, essa iniciativa foi primordial para iniciar as discussões sobre jornada de trabalho, assunto que naquela época não tinha muita visibilidade no país. São vários estabelecimentos que funcionam à noite e a sociedade já está acostumada aos serviços disponíveis 24 horas, como exemplo, supermercados, farmácias, posto de gasolina, hospitais, aeroportos, transporte, indústrias químicas, siderúrgicas e outros. Fischer explica que para atender a essa demanda existem aproximadamente 20 milhões de pessoas que trabalham a noite, o qual corresponde a 20% da força de trabalho.
Porém, esses trabalhadores estão mais propensos a desenvolver doenças como estresse, depressão, baixos níveis de alerta, cardiovasculares, diabetes, fadiga crônica, distúrbios digestivos e aumento do risco de acidentes. Além disso, os relacionamentos familiares e sociais também são comprometidos.
Ritmo biológico
A doutora informa que o trabalho coincide com o período de luz, bem como a noite com o período de repouso. O relógio biológico desempenha o papel de regulação temporal circadiana interna. “O nosso organismo tem uma estrutura temporal interna e funciona de forma diferente de dia e a noite. Todas as células do nosso corpo, tecidos e órgãos têm funcionamentos distintos. A rotação da Terra leva a ter marcadores temporais externos que regulam os nossos marcadores internos ou marcadores endógenos, que mesmo na ausência de luz continuam funcionando”, explica Frida.
Como o corpo humano tem ritmos biológicos que o preparam para o ciclo de vigília de acordar e dormir e vice-versa, normalmente as pessoas dormem à noite e trabalham pela manhã. A especialista aponta que o sono é muito frequente nas reclamações dos trabalhadores noturnos. “Micro-sonos ou lapsos na vigília (sonolência) ocorre, geralmente, com motoristas na estrada. Nesse caso, ocorrem muitos acidentes”, relata a doutora.
Com relação aos motoristas de caminhão, Frida salienta um estudo que discorre sobre esses profissionais que estão sujeitos a condições de trabalho que podem contribuir significativamente para o comprometimento de sua saúde. A especialista salienta que o trabalhador noturno não consegue dormir durante o dia, seja pela movimentação das pessoas na casa, barulho e claridade.
Melatonina e sua concentração no período da noite
Segundo Frida, a produção da melatonina ocorre na escuridão e a concentração no sangue e nas células é maior à noite. Já no período da manhã, a luz do sol faz com que a melatonina se transforma em seratonina. A seratonina por sua vez dá a sensação de bem estar.
A presidente da Working Time Society informa que certo mal-estar acompanha a pessoa que trabalha à noite. Para quem precisou permanecer acordado a noite inteira, seja porque foi em uma balada, cuidou do filho ou realizou um trabalho escolar, esse mal-estar também pode ser sentido nesses casos.
“Nos últimos 15 anos, especialistas começaram a verificar que o trabalho noturno, das 22h às 5h da manhã, causa realmente danos à saúde, os principais são obesidade, diabetes, depressão e até câncer”, discorre Fischer.
A obesidade ganha destaque porque “tanto mulheres quanto homens ganham mais peso quando estão inseridos no trabalho noturno”, salienta Frida. Isso porque o índice de massa corpórea (IMC) aumenta decorrente da má alimentação. A doutora cita que um estudo feito com enfermeiros, revela que o trabalhador não tem o habito de se alimentar direito e, muitas vezes, faz refeições rápidas e pouco nutritivas.
Assim como os enfermeiros, os caminhoneiros também foram citados por Frida, porque esses profissionais dormem pouco e, isso faz com que eles tenham maior concentração do hormônio leptina que é produzida por células de gordura. Ou seja, por meio da medida da leptina, o cérebro recebe a informação de que a pessoa pode estar com fome ou não.
Fischer informa que também existem análises recentes que relacionam a incidência do câncer de mama e trabalho noturno. Destaca um estudo da Dinamarca, o autor da pesquisa é Johnny Hansen que divulgou que as mulheres que trabalham no período noturno têm um risco maior em desenvolver câncer de mama.
As análises ainda serão estudadas com mais profundidade, porém, a doutora salienta que alguns estudos como o daInternational Agency for Research on Cancer (IARC), relaciona o trabalho noturno e a incidência de câncer.
Longa jornada de trabalho
De acordo com o artigo nº 7º, inciso XIV, da Constituição Federal de 1988, a jornada diária de trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento deverá ser de, no máximo, seis horas diárias, perfazendo um total máximo de 36 horas semanais.
Já, o Decreto Federal nº 3048, de 06 de maio de 1999, os agentes etiológicos e fatores de risco de saúde ocupacional são reconhecidos pelos Ministérios da Saúde e Previdência Social como causas de doenças e classificadas pela Classificação Internacional de Doenças (CID- 10).
Fischer ressalta que 12 horas de jornada de trabalho é muito desgastante para o trabalhador. “Não é brincadeira uma pessoa trabalhar das 7h às 21h, pois o efeito da longa jornada de trabalho é devastadora à saúde”, frisa a doutora.
Em 2000, Frida realizou um estudo na indústria petroquímica, no qual foi analisado que os trabalhadores desenvolviam suas atividades no período de 12 horas. “A indústria queria saber se mudaria a jornada de trabalho de 12 horas para 8 horas, pois os trabalhadores reclamavam de cansaço”, informa Frida.
Para isso, durante várias semanas foram analisados os registros de sono e vigília dos trabalhadores. Os trabalhadores durante o dia registravam no questionário específico sobre a sua sonolência nos seguintes horários: se entravam às 7 horas da manhã, respondiam às 9h; às 15h e às 17h. No período da noite também era feito o mesmo procedimento.
“O trabalhador respondia o questionário nos dias de trabalho diurno e noturno e também no período de folga. Havia claramente uma diminuição do alerta na décima hora do trabalho noturno. Quando menos a pessoa dorme, aumenta a probabilidade de adormecer involuntariamente durante a execução de uma atividade”, exalta Frida.
O mesmo estudo foi utilizado com os enfermeiros e o resultado foi idêntico. Completa que a insônia e problemas vasculares em profissionais de enfermagem são três vezes maiores.
Cochilo durante o trabalho noturno
De acordo com Fischer, o cochilo durante o trabalho noturno se mostra eficaz no caso em que o sono do trabalhador é inferior durante o dia. A perda do sono e a dificuldade de dormir durante o dia pode estar associado a diversos fatores, tais como aumento da secreção de cortisol e da temperatura central pela manhã, redução da melatonina, ruídos, claridade e afazeres domésticos.
Para preservar a saúde do trabalhador e a qualidade do serviço, Frida acredita que o cochilo durante o trabalho noturno além de reduzir a sonolência, evita acidentes e melhora o desempenho dos trabalhadores ao realizar as atividades de trabalho. Isto foi observado em um estudo feito com enfermeiros. Contudo, a doutora salienta que o local para o cochilo deve ser adequado para o trabalhador recuperar de fato as horas de sono.
Trabalho em turnos
Diferentemente do trabalho noturno, o trabalho em turnos pode ter duas ou mais equipes a qual uma sucede a outra no desenvolvimento das atividades. Desta forma, mantém a produção ou a prestação de serviços em uma empresa ou instituição, durante um período superior ao de 8 horas por dia.
Além disso, os horários de trabalho podem ser fixos ou não. “As empresas ou serviços que mantêm turnos de trabalho, geralmente, o fazem por períodos que variam de 12 a 24 horas por dia, podendo dar continuidade ou não por toda semana mês e ano”, informa Frida.
Os profissionais de aviação, por exemplo, trabalham em turnos, isso porque esses profissionais podem trabalhar em um dia no período da manhã, outro à tarde e outro à noite. Neste exemplo, o fuso horário também é uma variável.
No entanto, estudos revelam que os trabalhadores que desenvolvem atividades em turnos estão propensos a sofrer com riscos ambientais, adoção de estratégias combinadas com os efeitos do processo biológico de envelhecimento, distúrbios sérios como problemas de sono e, consequentemente, aposentadoria antecipada.
“Desde a década de 90, o autor Leon Kreitzman, do termo The 24 Hour Society (Sociedade 24 horas), fala que está se criando duas classes na sociedade, a primeira que gasta um monte de tempo tentando economizar dinheiro e a segunda que gasta um monte de dinheiro tentando economizar tempo. Porque o tempo é muito precioso e o tempo uma vez passado – passou!”, enaltece Frida Fischer.
A palestra ocorreu no dia 27 de setembro e faz parte do Primeiro Ciclo de Palestras da Coordenação de Educação (CEd) da Fundacentro, disponíveis no Youtube da instituição.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

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