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domingo, 26 de outubro de 2025

Túnel do Tempo: 50 anos sem Vlado

A mentira do falso suícidio tramado pela ditadura militar de 1954


Radiografia da Notícia

Os ditadores não imaginavam que a morte de Vlado iria se tornar grande dor de cabeça para o Regime

Luís Alberto Alves/Hourpress

O dia 25 de outubro de 1975 caiu num sábado, igual em 2025, 50 anos depois da tragédia que se abateu sobre a família Herzog. Naquele dia, o jornalista Vladimir Herzog compareceu à sede do DOI/Codi, que funcionava nas esquinas da Rua Tutoia com Tomaz Carvalhal no bairro paulistano do Paraíso, Zona Sul.

No início daquela tarde, Herzog estaria morto por causa das torturas que sofreu para que confessasse planos que o então Partido Comunista tinha, conhecido como partidão, para continuar combatendo o regime militar que havia derrubado o presidente eleito diretamente João Goulart, em 1964.

Os ditadores não imaginavam que a morte de Vlado iria se tornar grande dor de cabeça para o Regime. Para tentar encobrir o assassinato forjaram uma foto dele sentando como se estivesse praticado suicídio ao se enforcar. Detalhe: ninguém se enforca sentado!!

Assassinado

Judeu, a notícia correu rápido entre a comunidade de que ele era suicida e deveria ser sepultado numa ala destinada a este tipo de morto. Na época, o rabino Henry Sobel foi até o IML (Instituto Médico Legal) para preparar o corpo para o enterro. Porém, constatou que os ferimentos no cadáver de Vlado não eram típicos de suicídio. Constatou que ele fora assassinado.

A notícia se propagou rapidamente entre as redações de jornais, revistas, rádio e televisão. O enterro ocorreu sob olhares de agentes da repressão, com alguns deles fazendo o papel de coveiro para colocar rapidamente o caixão na sepultura. Uma semana depois, por intermédio do presidente do Sindicato dos Jornalista de SP, Audálio Dantas, ocorreu ato ecumênico na Catedral da Sé.

O arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, junto com o reverendo James Wright e o rabino Henry Sobel  conduziram o culto que reuniu mais de 8 mil pessoas. Mesmo sob ameaças das Forças Armadas milhares de pessoas se dirigiram até a Praça da Sé. Os bloqueios no trânsito, não impediram que elas descessem dos seus carros e continuasse a pé o trajeto. Era o tapa no rosto dos ditadores.  Em 1978, a Justiça Federal condenou a União pela morte de Vlado.

Luta

Nesses 50 anos, a viúva Clarice Herzog e seus dois filhos e demais amigos da família lutaram para mostrar ao Brasil, que Vlado tinha sido assassinado por discordar do regime ditatorial que matou inúmeros brasileiros por exigir democracia. Sofreram ameaças, mas continuaram firmes na luta por esse ideal. Passados meio século, fica a certeza que a morte de Vlado não foi em vão, assim como de milhares de brasileiros que perderam as suas vidas nas mãos de torturadores que  ainda permanecem livres sem sentir o peso das mãos da Justiça.

 Luís Alberto Alves, jornalista, editor do blogue Hourpress

 

 

 

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