*Por Dra.
Karina A. P. Leite Calderoni
De acordo com dados do eMarketer – empresa
internacional de marketing digital que realiza pesquisas mundiais sobre o
mercado da internet - em 2017, o Brasil terá até 70,5 milhões de usuários de
smartphones. Um estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo aponta que
oito milhões de pessoas em todo o país apresentam sintomas de dependência da
rede, o que corresponde a 4% da população nacional.
Os números acima reforçam o cenário que
acomete todas as gerações no Brasil. Quantas vezes você já foi a um restaurante
e reparou que a grande maioria das pessoas estava interagindo com amigos
virtuais ao invés de bater um bom papo com a pessoa à frente?
A internet e
as redes sociais trazem uma quantidade enorme de conteúdos estimulantes,
divertidos, prazerosos, capazes de produzir dependência. Além disso, a
tecnologia faz com que esses conteúdos sejam de fácil e rápido acesso, de
qualquer lugar em que estejam. Ou seja, hoje em dia, com os smartphones,
tablets, notebooks e outros dispositivos, temos a sensação de uma
disponibilidade de conteúdo interminável e constante, 24 horas por dia, 7 dias
por semana.
Toda atividade que causa prazer tende a ser
repetida, pois estimula uma parte do cérebro conhecida como sistema de
recompensa. Não é diferente no caso da internet, em que o cérebro passa a
“pedir” que o mesmo prazer seja encontrado o tempo todo, o que leva as pessoas
com essa dependência a perderem o controle do tempo que passam na rede.
Uma pessoa pode ser considerada dependente
quando ela apresenta preocupações excessivas com o uso da internet, quando se
passa muito mais tempo online do que o planejado e quando esta falta de
controle causa prejuízos sociais, ocupacionais ou em outras áreas importantes
da vida, pois outras atividades são negligenciadas e o prazer não é encontrado
em outras ações do dia.
Veja outras
características comuns em dependes de internet:
- Angústia: algumas
pessoas utilizam a internet como forma de fuga ou tentativa de adiar as
dificuldades da vida prática.
- Ansiedade social:
outras podem apresentar uma elevada ansiedade social e usar a internet
como forma de interação com os outros de forma mais controlada ou ajustada
ao seu grau de conforto, porém acabam tendo um isolamento ainda maior e
tendem a se esquivar cada vez mais de interações “reais”.
- Tempo online: outra
característica comum aos dependentes de internet é mentir sobre o tempo
que passam online, pois sabem que é um tempo excessivo e têm vergonha ou
medo de serem criticados por amigos e familiares sobre seu comportamento.
- Sintomas de
abstinência: dependentes de internet quando privados do mundo online
apresentam labilidade emocional, irritabilidade ou depressão.
A dependência de internet é tratada como todas
as outras dependências como por drogas, álcool, compras e etc. O tratamento é
composto por medicações e psicoterapia. As medicações têm o objetivo de tratar
outros transtornos associados como depressão e ansiedade e também de ajudar no
controle da impulsividade.
A
psicoterapia tem como meta aumentar a motivação para a mudança de
comportamento, melhorar o manejo do tempo, diminuir o isolamento social,
melhorar os sintomas de abstinência, entre outros aspectos.
Todas as atividades que promovam sentimentos
relacionados com a satisfação pessoal, ou de bem-estar devem ser sempre
estimuladas, abrir um espaço para a existência desses momentos tira a pessoa do
movimento obrigações/deveres, mas esses momentos não estão restritos às redes
sociais, pode ser um cinema, um bate-papo com os amigos, a leitura de um bom
livro, um passeio no parque, uma viagem, entre outras tantas atividades.
*Dra. Karina A. P. Leite Calderoni é
médica psiquiatra, especialista em dependência química e sócia-fundadora da
Clínica Sintropia
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