Nesse contexto, o sarampo é uma doença grave, causada por um vírus RNA (paramyxovirus)
Redação/Hourpress
A vacinação infantil é uma forma eficaz de prevenir doenças graves, mas muitos não recebem todas as vacinas recomendadas, sendo muitas as razões para isso: a acessibilidade aos serviços de saúde, a desinformação quanto à importância da vacinação, a não confiança na vacina ou nos profissionais de saúde e mesmo a resistência de grupos que são contrários às políticas de vacinação.1
Nesse contexto, o sarampo é uma doença grave, causada por um vírus RNA (paramyxovirus) e facilmente transmitido a outras pessoas pelo contato com secreções. Pode levar a condição potencialmente fatal, incapacidade e morte.2
O sarampo é uma doença altamente contagiosa. Antes da introdução da vacina contra a doença, em 1963, e da vacinação das populações em massa, eram registradas importantes epidemias da doença, que chegaram a causar aproximadamente 2,6 milhões de mortes ao ano.3
Estima-se que de 2000 a 2017, a vacinação contra o sarampo evitou aproximadamente 21,1 milhões de mortes no mundo. O número de óbitos pela doença caiu 80% no período – passando de 545 mil no ano 2000 para 110 mil em 2017.4
A doença frequentemente inicia-se com febre alta, que se inicia cerca de 10 dias após a exposição ao vírus. A sintomatologia dura entre 4 e 7 dias, sendo que na fase inicial geralmente há secreção nasal, tosse, olhos vermelhos e úmidos. Nessa fase podem surgir também pequenas manchas brancas no interior das bochechas e, alguns dias depois, surgem manchas pelo corpo, mais concentradas no rosto e parte superior do pescoço. Essas manchas, chamadas exantema, costuma perdurar por cinco e seis dias, desaparecendo sequencialmente.5
A vacina contra o sarampo é indicada aos 12 meses e aos 15 meses de vida, combinada com caxumba e rubéola (MMR).4
Atualmente, o sarampo é responsável por cerca de 44% das 1,7 milhões de mortes evitáveis por vacinas entre crianças anualmente.4
O maior problema inerente ao sarampo atrela-se às complicações, sendo as mais frequentes a otite média aguda, a pneumonia bacteriana, a laringite e a laringotraqueíte. Há também o risco, embora com maior raridade, de manifestações neurológicas, doenças cardíacas, como a miocardite e a pericardite. A panencefalite esclerosante subaguda é bastante rara e acomete o sistema nervoso central após sete anos da doença.5
A Prefeitura de São Paulo, objetivando otimizar a cobertura vacinal e reduzir os riscos de acometimento por sarampo, lançou a “Campanha de Vacinação contra o Sarampo 2019”. A vacina é disponibilizada em todas as Unidades Básicas de Saúde do município e o alvo é vacinar todas as crianças entre 6 meses e 11 meses e 29 dias, todas as pessoas entre 15 e 29 anos, independente do número de doses que tomou anteriormente, além dos profissionais de saúde.5
A vacina objeto da campanha não é válida para a rotina e crianças devem receber uma nova dose aos 12 meses de idade, respeitando-se o intervalo mínimo de 30 dias entre elas.5
Objetivos
Os objetivos dessa revisão foram identificar os riscos, benefícios e argumentos para vacinação contra o sarampo.
Método
A busca foi realizada nas bases de dados Cochrane Library – https://www.cochranelibrary.com/, Medline via PubMed – www.pubmed.gov e Portal da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS (LILACS – Literatura Latino Americana em Ciências da Saúde) e IBECS – Índice Bibliográfico da Espanha em Ciências da Informação. Não houve limitação de data ou restrição geográfica para a pesquisa. A data da última pesquisa foi 05/08/2019.
O vocabulário oficial identificado foi extraído do DECS – Descritor em Ciências da Saúde – http://decs.bvs.br/ e no MeSH – Medical Subject Headings – http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mesh e os termos correspondentes para o EMTREE. Foram utilizados os descritores e termos: "Measles"[Mesh] OR "Measles Vaccine"[Mesh], ("Measles/complications"[Mesh] OR "Measles/epidemiology"[Mesh] OR "Measles/mortality"[Mesh] OR "Measles/prevention and control"[Mesh] OR "Measles/statistics and numerical data"[Mesh] OR "Measles/transmission"[Mesh]).
A metodologia adotada para o desenvolvimento da estratégia de busca seguiu o Handbook da Cochrane, bem como a padronização para estratégias de alta sensibilidade.6
Foram selecionados os estudos com o maior nível de evidência, sendo priorizado: revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados (ECR), ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais controlados e não controlados e séries de casos e guidelines.
O método de síntese envolveu a combinação de estudos semelhantes em uma revisão narrativa. Os resultados de estudos individuais foram exibidos em tabela.
A busca da literatura recuperou um total de 1311 referências, sendo 618 no PUBMED, 559 referências na Cochrane e 134 no Portal BVS . Depois de eliminadas as duplicidades e as referências não relacionadas ao escopo dessa análise, foram selecionadas as evidências de melhor qualidade, priorizando-se a pirâmide de nível de evidências.
A tabela 1 apresenta os estudos incluídos nessa revisão.
Tabela 1: Estudos incluídos na revisão
AUTOR ANO DESENHO OBJETIVO/OCORRÊNCIA/INTERVENÇÃO CAUSAS/EVENTOS/CONCLUSÃO
Gorski, D.7 2017 Série de casos Surto de sarampo em população somali em Minnesota - Movimento antivacina
- Redução da cobertura vacina de 92% para 42% em mais de uma década
- Surto de sarampo em 2011
- 50 casos, muitos hospitalizados, custo elevado
- Motivo da não vacinação: associação não comprovada da vacina com autismo
Au, M.8 2019 Série de casos Surto de sarampo em Portland, Nova Iorque e Nova Jersey Não vacinação em comunidades judaicas ultra-ortodoxas
244 casos em crianças não vacinadas
Santos, EMD.9 2019 ECR Objetivo: avaliar a consistência clínica,
imunogenicidade e reatogenicidade de três lotes de vacina MMR aplicadas em UBS no Brasil - 97,6% de soroconversão da vacina contra o sarampo
- elevada conversão sorológica
- efeitos adversos raros, em geral sistêmicos
Saeterdal, I.10 2014 Revisão Sistemática Objetivo: Avaliar os efeitos de intervenções na comunidade para informar/educar as pessoas quanto à vacinação em crianças de até 6 anos.
2 ECR incluídos - Evidência limitada de que as intervenções de comunicação aumentam a cobertura vacinal Ames, HM.11 2017 Revisão Sistemática Objetivo: Avaliar os efeitos de intervenções na comunidade para informar/educar as pessoas quanto à vacinação em crianças . 38 ECR incluídos - Necessidade de informação aos pais sobre as evidências relativas à vacinação. - Maior confiança dos pais nas informações dos profissionais de saúde (evidência moderada).
Schoeps, A.12 2018 ECR Objetivo: Investigar as complicações de uma dose inicial adicional de vacina contra o sarampo na hospitalização ou
mortalidade.
Intervenção: dose adicional da vacina 4 semanas após 3aځ dose (n= 2258)
Controle: vacina no período recomendado (3 doses) – n=2238. - Nenhum efeito adverso da vacina
- Não houve aumento da mortalidade ou hospitalização entre os grupos (RR = 0,83, IC 95% 0,55-1,29).
Martins, CL13 2008 ECR Objetivo: Avaliar a eficácia protetora da vacinação contra o sarampo em bebês em um país de baixa renda antes dos 9 meses de idade.
Grupo tratado – n=441/ grupo controle – n=892.
Intervenção: Vacinação contra o sarampo aos 4,5 meses de idade (tratado), ou aos 9 meses (controle). Eficácia da vacina contra a infecção do sarampo, internação hospitalar por sarampo e mortalidade por sarampo antes da vacinação padrão aos 9 meses de idade. - A eficácia da proteção da vacina contra sarampo para crianças foi confirmada
- Houve redução de internações hospitalares foi de 100 % (IC 95%: -42% a 100%).
- o grupo de tratamento tendeu a ter menor mortalidade global (taxa de mortalidade 0,18, 0,02 a 1,36), embora isso não tenha sido significativo.
- Conclusão: surtos de sarampo podem ser reduzidos pela vacinação contra o sarampo
As áreas mundiais com maior cobertura vacinal contra o sarampo apresentam menor ocorrência de surtos de sarampo, mas não estão isentas da doença, sobretudo devido ao fluxo migratório de pessoas a partir de áreas com baixa cobertura vacinal.
As áreas com menor cobertura vacinal justificam-se a partir de resistências à adesão relativa a grupos contrários à vacinação. Destaca-se também que a falta de informação da população pode ser relevante na baixa adesão, sendo que os profissionais de saúde correspondem aqueles cujas mães mais confiam quanto à fonte de informação.
Não há evidências de eventos adversos significativos à vacina do sarampo, combinada com caxumba e rubéola e doses adicionais de reforço são bem toleradas e mostram aumento da taxa de anticorpos.
Há evidência de eficácia da vacina contra o sarampo em prevenir a doença.
A não vacinação pode estar relacionada ao aumento de internações hospitalares, com evidentes prejuízos à sociedade.
Conclusão
No que tange a vacinação contra o sarampo, há evidência de proteção da vacina contra a doença. Os riscos à vacinação são baixos, os benefícios relativos à redução no número de casos de doença são evidentes. Há possível redução da mortalidade com a vacinação e clara redução de custos de internações hospitalares para a sociedade.