Hourpress/Arquivo
Conhecia muito os bastidores de onde circulava todos os dias, exceto nos finais de semana
Astrogildo Magno
Jurandir era funcionário
exemplar. Gostava da honestidade. Jamais concordava com o erro. Batia de frente
contra colegas de trabalho que fingia que exercia as funções na empresa. Nunca
chegava atrasado. Sempre pontual, estava no portão da firma 15 minutos antes do
horário. Também recusava fazer qualquer tipo de comentário maldoso contra os
seus patrões.
Entrou como faxineiro e aos
poucos, por causa dos inúmeros cursos que fazia, chegou ao cargo de encarregado-geral
da linha de produção, onde estava há 20 anos. Conhecia muito os bastidores de
onde circulava todos os dias, exceto nos finais de semana, quando todos
folgavam para retornar na segunda-feira.
Morador no bairro do Ipiranga,
Zona Sul de São Paulo, enfrentava os tradicionais congestionamentos da Avenida
do Estado para chegar à Barra Funda, Zona Oeste, onde estava a sede da empresa
que lhe abriu as portas num momento de desespero, quando nem comida existia com
frequência sobre a sua mesa para saciar a fome dos três filhos.
Olhos
Experiente, conhecia de longe o
funcionário mentiroso e desonesto. Observava o comportamento e como agia na
linha de produção, quantas vezes saia para ir ao banheiro e quanto tempo
demorava para retornar. Nada escapava dos seus olhos, que mesmo com óculos de
grau, ainda enxergava bem.
Ficou de olho numa jovem loira,
olhos azuis, corpo esbelto e voz bem sensual, que acabara de ser admitida no
RH. Quando a encontrava pelos corredores, ela se recusava a cumprimentá-lo.
Deixava bem claro, com essa atitude, que não gostava de se misturar com
funcionários do chão de fábrica. Na visão dela, gente “grossa” e sem educação.
Em uma sexta-feira chuvosa,
Jurandir terminou o expediente e procurava se animar para pegar o terrível
congestionamento que lhe aguardava no retorno para casa. Quando entrou na
Avenida Marquês de São Vicente, viu um carro com o pisca alerta aceso. Quebrado,
atraia xingamentos de outros motoristas. Desceu para ajudar. No volante desesperada
estava a funcionária do RH que discriminava trabalhador de chão de fábrica....
Astrogildo Magno é cronista
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