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sábado, 9 de setembro de 2023

Crônica: Quando se cospe para cima, ele cai no próprio rosto

    Hourpress/Arquivo


Conhecia muito os bastidores de onde circulava todos os dias, exceto nos finais de semana

Astrogildo Magno

Jurandir era funcionário exemplar. Gostava da honestidade. Jamais concordava com o erro. Batia de frente contra colegas de trabalho que fingia que exercia as funções na empresa. Nunca chegava atrasado. Sempre pontual, estava no portão da firma 15 minutos antes do horário. Também recusava fazer qualquer tipo de comentário maldoso contra os seus patrões.

Entrou como faxineiro e aos poucos, por causa dos inúmeros cursos que fazia, chegou ao cargo de encarregado-geral da linha de produção, onde estava há 20 anos. Conhecia muito os bastidores de onde circulava todos os dias, exceto nos finais de semana, quando todos folgavam para retornar na segunda-feira.

Morador no bairro do Ipiranga, Zona Sul de São Paulo, enfrentava os tradicionais congestionamentos da Avenida do Estado para chegar à Barra Funda, Zona Oeste, onde estava a sede da empresa que lhe abriu as portas num momento de desespero, quando nem comida existia com frequência sobre a sua mesa para saciar a fome dos três filhos.

Olhos

Experiente, conhecia de longe o funcionário mentiroso e desonesto. Observava o comportamento e como agia na linha de produção, quantas vezes saia para ir ao banheiro e quanto tempo demorava para retornar. Nada escapava dos seus olhos, que mesmo com óculos de grau, ainda enxergava bem.

Ficou de olho numa jovem loira, olhos azuis, corpo esbelto e voz bem sensual, que acabara de ser admitida no RH. Quando a encontrava pelos corredores, ela se recusava a cumprimentá-lo. Deixava bem claro, com essa atitude, que não gostava de se misturar com funcionários do chão de fábrica. Na visão dela, gente “grossa” e sem educação.

Em uma sexta-feira chuvosa, Jurandir terminou o expediente e procurava se animar para pegar o terrível congestionamento que lhe aguardava no retorno para casa. Quando entrou na Avenida Marquês de São Vicente, viu um carro com o pisca alerta aceso. Quebrado, atraia xingamentos de outros motoristas. Desceu para ajudar. No volante desesperada estava a funcionária do RH que discriminava trabalhador de chão de fábrica....

Astrogildo Magno é cronista

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