São Paulo
Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil
Terminou por volta do meio-dia de hoje (10) o sepultamento, em São Sebastião (SP), dos estudantes mortos no acidente da rodovia Mogi-Bertioga, ocorrido na noite da última quarta-feira (8).
Onze das dezoito vítimas foram enterradas em São Sebastião hoje pela manhã: Gabriela Silva Oliveira dos Santos, Lucas Inácio Alves Pereira, Damião Nunes Braz, Maria Wdirlania Maceno de Sousa, Daniela Aparecida Mota Dias, Daniel de Oliveira Damazio, Rafael Santos do Carmo, Natália Rodrigues Teixeira, Ana Carolina Cruz Veloso, Rita de Cássia Alves de Lima, Camila dos Santos Alves.
O motorista do ônibus, Antônio Carlos da Silva, foi sepultado em São Luiz do Paraitinga (SP), e Sônia Pinheiros de Jesus, em São Paulo. O corpo de Aldo Sousa Carvalho foi levado para o Piauí; de Guilherme Mendonça de Oliveira, para Itaquaquecetuba (SP); de Janaína Oliveira Pinto, para Bituruna (PR); e de Carolina Marreca Benetti, para Ribeirão Claro (PR). O corpo de Daniel Bertoldo ainda aguarda liberação no Instituto Médico Legal do Guarujá para ser cremado.
Revolta
Os sepultamentos em São Sebastião foram marcados pela comoção dos familiares e amigos das vítimas. Parte dos presentes estava revoltada e inconformada com o acidente ocorrido com o ônibus da viação União do Litoral. Ainda sem informações conclusivas, muitos especulavam o que teria sido a causa dos acidentes.
“A cidade toda está muito triste com o que ocorreu. Ninguém sabe ao certo o que fez com que o ônibus tombasse. Nessa hora, acaba sobrando para o motorista, para a empresa de ônibus. Mas nada disso vai trazer os meninos de volta”, disse uma mulher, identificada apenas como Mercedes. Ela acompanhou os sepultamentos.
Em São Sebastião, o maior velório ocorreu em Barra do Una, onde as vítimas foram veladas no ginásio de esportes. Por volta das 9h30, familiares começaram a levar a pé, em cortejo, os caixões em direção à capela Nossa Senhora do Carmo e Senhor Bom Jesus, vizinha do cemitério municipal. Os enterros ocorreram um por vez.
No pátio da capela, alguns familiares que aguardavam pelo sepultamento pediram, em tom de desabafo e revolta, justiça em relação aos responsáveis pelo acidente. Muito comovida, uma mulher, parente de uma das vítimas, disse - em voz alta - que todos sabiam que os ônibus que transportavam os alunos não tinham boas condições.
Nesta madrugada, após comparecer ao velório em Juqueí, o prefeito de São Sebastião, Ernane Primazzi, disse que o ônibus da empresa União do Litoral, envolvido no acidente, fretado pela prefeitura para transportar os estudantes, estava com a documentação e a revisão mecânica em dia.
Irmão diz que vítima de acidente já havia criticado alta velocidade de ônibus
- São Paulo
Fernanda Cruz – Repórter da Agência Brasil
Uma das 18 vítimas que morreram no acidente com um ônibus na rodovia Mogi-Bertioga, Sônia Pinheiro de Jesus, de 42 anos, foi enterrada hoje (10) às 11h no bairro de Itaquera, zona leste da capital paulista. Sônia e mais 39 estudantes universitários viajavam de Mogi das Cruzes para São Sebastião, no litoral, quando o veículo perdeu o controle e tombou.
O ônibus, da empresa União do Litoral, contratado pela prefeitura de São Sebastião, tombou e bateu em uma rocha por volta das 22h50 de quarta-feira. O trecho da estrada onde ocorreu o acidente é de declive e tem pouca iluminação.
Antônio Pinheiro dos Santos, irmão de Sônia, disse que ela tinha medo de pegar o ônibus, por achar que os motoristas trafegavam em alta velocidade. “Ela dizia que o motorista corria muito, já tinha entrado em discussão com ele”, disse.
Lucilene Maria Pinheiro, vendedora, de 56 anos, dividia a casa com Sônia. Ela lembra que a amiga reclamava do abuso de velocidade do motorista. “Ela tinha medo de pegar esse ônibus, tinha uns motoristas que eram muito doidos, corriam demais. Quase todas as vezes ela chagava para mim e falava que tinha medo de pegar o ônibus, o motorista anda muito”, disse ela.
A empresa União do Litoral disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que o motorista do ônibus, Antônio Carlos da Silva, tinha conduta exemplar e que nunca recebeu qualquer reclamação formal de alunos contra ele. Antônio trabalhava há dois anos na empresa, fazendo duas linhas, uma até Mogi das Cruzes e outra até a cidade de Caraguatatuba, também no litoral.
Muito abalado, o irmão de Sônia disse que ainda não sabe se irá processar a empresa de ônibus. “A gente está sem saber o que faz, fico assim perdido. Tirar o corpo do IML é uma burocracia, estou desde a hora do acidente até agora sem dormir, rodando de dia e noite, cuidando de papelada”, disse. “Motorista incompetente, ônibus sem manutenção, alugado pela prefeitura, não tem fiscalização, em uma estrada perigosa como essa”, lamentou.
Sonhos
Sônia tinha 42 anos e trabalhava como vendedora. Ela cursava o terceiro ano do curso de Assistência Social e já planejava comemorar a conclusão do curso. “Ela tinha todo o plano pela frente, trabalhando para fazer uma faculdade. Agora, no final de ano, estava com o projeto de fazer a festa de formatura dela. Acabou nessa tragédia”, disse o irmão.
Sônia tinha sete irmãos, era solteira e não tinha filhos. Ela morava com Lucilene na praia de Boraceia, em São Sebastião. Fazia o percurso de ônibus todos os dias até a faculdade particular em Mogi das Cruzes, viagem que dura uma hora.
“Ela sempre gostou de assistência social, esse era o sonho dela. A primeira faculdade dela. Ela pagava com dificuldade, com muita luta. Era uma pessoa do coração muito grande, se ela pudesse ajudar todo mundo, ela ajudava”, lembra a amiga.
Na nota da União do Litoral, a empresa informou também que vai enviar, ainda hoje, mais informações comentando as críticas em relação à manutenção do veículo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário