Rio de Janeiro
Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil
O enredo No voo da Águia – uma viagem sem fim vai levar, para a Marquês de Sapucaí, uma Portela moderna e divertida. Quem garante é o carnavalesco Paulo Barros, um dos mais destacados do carnaval carioca.
“Acho fundamental a gente preparar um desfile que seja divertido e que o público participe, tenha surpresas, independente delas serem reveladas ou não, não importa, mas o público pode esperar uma Portela alegre e competitiva”, indicou.
Considerada, junto com a Mangueira, uma escola tradicional no Rio, para Paulo Barros, isso não significa que a azul e branco tenha parado no tempo. “Esse discurso de tradição vem muito mais de fora do que de dentro”, disse ele, que lembrou que pra vencer, é preciso inovar: “A Portela é uma escola tradicional, mas ela tem uma sede de ganhar o carnaval e entende que, para isso, tem que se modernizar”.
Paulo Barros foi contratado este ano para desenvolver o enredo da escola e, com isso, teve a honra e o prazer de conviver com a Velha Guarda, que muitos dizem ser resistentes à modernidade. “Eu apelidei de Jovem Guarda. Eles são tão jovens, tão modernos, tão receptivos. Eu não tive nenhum problema com relação a nada aqui na Portela. Toda esta história de que a Portela é uma escola de ranço, tradicional é uma coisa pesada, cheia de manias, isso não é verdade”, disse.
O carnavalesco também lembrou da disposição da Velha Guarda. “Eles querem disputar o carnaval e ganhar. Isso está muito claro para mim”, disse.
O compositor Monarco, uma das referências da Portela, comemorou a chegada do carnavalesco e sua aposta em um desfile moderno e inovador. “O nosso desejo é ver a Portela nos píncaros da glória e não ver a Portela naquela mesmice de uns carrinhos alegóricos, um destaquezinho lá em cima. Não. Nós queremos ver uma Portela explosiva e chegar na avenida com uma águia bonita e arrebatar o povo como víamos antigamente.
A chegada do Paulo Barros foi uma alegria. Eu fico feliz, como os nossos companheiros da Velha Guarda, porque o nosso papel é ver a nossa escola brilhar. E se ele veio para somar e levar para frente e dar glória à Portela, não tem porque a gente não ficar alegre e apoiar ele. Nós não somos rabujentos. Não tem como se meter na criatividade dele, deixa ele trabalhar”, disse.
Tia Surica, outra figura de destaque da Velha Guarda reforçou o discurso. “[Paulo Barros] está fazendo um carnaval digno. Ele não fugiu da tradição, graças a Deus deu tudo certo.
Agasalhamos ele com todo carinho. Virou um filho adotivo. Se depender de mim ele continua, mas não posso responder por terceiros”, disse ela, que também não se conforma com a fama de que a Velha Guarda impede inovações no desfile: “Isso tudo é rebate falso, intriga da oposição”.
Para o carnavalesco, o desafio de um bom resultado no desfile também depende, em grande parte, do desempenho de todos os integrantes da escola.
“Não sei se a gente vai ganhar, mas a gente se preparou para isso e para ser competitivo. Mas isso não depende só de mim. Depende das 3,8 mil pessoas, que devem fazer o seu papel. Eu não faço a mágica sozinho. Preciso de todos os segmentos da escola, para que todos pontuem. A partir disso é que a gente disputa o carnaval. A responsabilidade artística, tudo bem, é comigo mesmo, mas a responsabilidade técnica do desfile pertence a todos nós, a toda Portela”, contou.
Assim como outras escolas do Rio, a Portela enfrentou dificuldades e atrasos com a liberação de recursos no ano passado. Para o carnavalesco, o calendário de liberação atrapalha o planejamento do desfile. “Você perde março, abril, maio e junho. São praticamente quatro a cinco meses parados. O carnaval hoje consome 11 meses. A gente acaba o carnaval fica praticamente um mês parado e imediatamente já começa um projeto novo. E a gente fica de quatro a cinco meses parado, esperando a disponibilidade de dinheiro para começar o carnaval”, criticou.
Voo da águia
No desfile deste ano, o símbolo da escola – a águia – vai conduzir o público a uma grande e variada viagem: pela história da humanidade e pela imaginação dos viajantes, que gostam de se arriscar no deserto, em florestas sombrias e geleiras. A procura por mundos perdidos e a busca por tesouros, por causa da cobiça e da ambição, também fazem parte do passeio.
A dificuldade em conseguir recursos, no entanto, não comprometeu a criatividade do carnavalesco. “Eu exijo isso de mim independente de dinheiro ou não. A gente não está mais nos anos 70. A gente está nos anos 2000 e o carnaval mudou. Agregou tecnologia e várias outras coisas que têm um custo muito alto”, concluiu
Segredos
Paulo Barros também é conhecido por fazer surpresas durante o desfile. Antigamente, se incomodava quando elas eram divulgadas na imprensa antes do desfile, mas agora diz que não se importa mais. “Eu acho que é falta do que fazer, estragar uma surpresa, mas tudo bem, faz parte do jogo, a gente tem que enfrentar este tipo de gente. Fazer o quê? Isso me incomodava, mas hoje em dia não me incomoda, porque eu aprendi isso. Acho que estou ficando velho. Você pode até falar, até contar, mas o que você vê não é o que você conta.
Então, tenho certeza que apesar de algumas coisas já terem vazado e outras não, para mim não incomoda mais. Até porque no ano passado divulgaram que na comissão de frente os integrantes iam voar sobre o abre-alas, e a pessoa se deu muito mal. Está esperando até hoje elas voarem por cima do abre alas. Então, algumas coisas que publicam tem que esperar para ver se é verdade ou não”, disse.