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A ibogaína é obtida da raiz da Iboga, planta encontrada em países africanos |
Luís Alberto Alves
A pesquisa conduzida pelo
Departamento de Psiquiatria da Unifesp mostra que a ibogaína foi capaz de
manter os pacientes abstinentes por, pelo menos, um ano
A ibogaína,
medicamento obtido da raiz da Iboga, planta encontrada em países africanos,
principalmente no Gabão, pode interromper a dependência de crack e outras
formas de vício em 72% dos casos.
É o que
revela a pesquisa brasileira inédita, conduzida pelo Departamento de
Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicada pelo The
Journal of Psychopharmacology da Inglaterra, uma das publicações mais
relevantes na área de Psicofarmacologia do mundo.
Liderado
pelo psiquiatra Dartiu Xavier, o estudo, realizado entre janeiro de 2005 e
março de 2013, envolveu 75 pacientes dependentes de várias drogas, como
cocaína, crack, álcool e outras menos comuns. Desses, 55% dos homens e 100% das
mulheres ficaram livres do vício por, pelo menos, um ano. "Esse prazo de
abstinência costuma ser considerado satisfatório para se falar em cura",
afirmou Xavier.
Já Bruno
Chaves, especialista em Clínica Médica e um dos idealizadores do estudo,
ressalta que o período em que os pacientes conseguiram ficar abstinentes foi
significativamente maior após o tratamento com ibogaína em comparação com os
períodos de interrupção da dependência conseguidos pelos mesmos pacientes antes
dessa experiência. Segundo ele, os tratamentos tradicionais alcançam resultados
semelhantes em apenas 5 a 10% dos casos.
Além de
interromper a dependência por um período prolongado, o levantamento também
identificou que a intervenção com a substância melhora a qualidade de vida dos
usuários de drogas, já que foi verificado que a maioria deles voltou a estudar,
a trabalhar e a se relacionar adequadamente na sociedade.
O
medicamento atua em duas frentes nos pacientes. Por um lado, aumenta uma
substância já conhecida no cérebro, que repara as sinapses danificadas e cria
novas conexões entre os neurônios, o que recupera, em parte, o dano causado
pelas drogas. Concomitantemente a esse mecanismo, ocorre um reequilíbrio dos
neurotransmissores e , por consequência, a proporção adequada entre serotonina,
dopamina e noradrenalina, responsáveis pelas sensações de prazer.
Por outro
lado, a ibogaína atua no campo psicológico do paciente. É comum o relato de uma
certa confusão mental. "Durante os efeitos da medicação, os pacientes
referiram experiências e vivências intensas, revivendo coisas que aconteceram
em suas vidas", afirma o psiquiatra Xavier.
Efeitos adversos
Embora
tenham ocorrido reações como tonturas, tremores, náuseas, dores de cabeça e
confusão mental, por até 24 horas após o início do tratamento, não houve
registro de efeitos adversos graves nos pacientes pesquisados, como arritmias
cardíacas ou mortes. "O tratamento com ibogaína realizado em hospital, com
acompanhamento médico constante, medicação de boa qualidade e procedência, em
pacientes motivados, é seguro e sem complicações", garante Chaves. De
acordo com ele, os pacientes receberam acompanhamento por até 3 anos após a
primeira sessão de terapia e, nesse período, não foi verificada nenhuma sequela
física ou psicológica.
Chaves
também ressaltou que uma das principais vantagens do uso da ibogaína contra a
dependência química é que, enquanto o paciente que recebe tratamento
tradicional fica, em média, nove meses internado, aquele que vivencia a
experiência psicodélica passa, no máximo, 48 horas recluso.
Acesso à ibogaína
Apesar de
ser utilizada na recuperação de dependentes químicos há algumas décadas em
vários continentes, a terapia a base da Iboga (raiz cujo princípio ativo é a
ibogaína) continua proibida em alguns países.
No Brasil,
embora não existam restrições legais à ibogaína, o uso da substância como
medicamento não está regulamentado. Os tratamentos podem ser considerados como
uma alternativa para os casos mais graves de dependência química. As sessões
com ibogaína são feitas a partir de produtos importados, autorizados pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).