|
Julio Cortázar foi um dos mais célebres escritores argentinos |
Redação
O dia 26
de agosto deste ano marca os 100 anos de nascimento de um dos escritores mais
originais e célebres de seu tempo e grande inovador da literatura
sul-americana, o argentino Julio Cortázar. Para comemorar em grande estilo, a
Editora DSOP lançará nesta mesma data, em seu estande na 23ª Bienal
Internacional do Livro de São Paulo,Cortázar: notas para uma biografia, de Mario Goloboff, com tradução de José Rubens Siqueira,
com direito a bate-papo sobre a vida e obra do autor, intercalado com leituras
de trechos de sua obra, comandado pela escritora Andrea del Fuego, ganhadora do
Prêmio Literário José Saramago. O evento acontece até 31 de agosto, no
Anhembi, Santana, Zona Norte de SP.
Por ter sido amigo de Cortázar, somente o
biógrafo Mario Goloboff poderia falar com tamanha propriedade de sua vida, numa
biografia de caráter tão íntimo e pessoal. O livro aborda temas muito diversos
da vida e obra de Cortázar que proporcionam aos leitores uma maneira de chegar
mais perto de um dos escritores mais complexos e de maior sensibilidade
literária de sua geração. Trata-se de uma leitura indispensável para quem é
apaixonado por literatura e quer conhecer outras faces desse grande autor.
Nas palavras do tradutor, “muito além das
referências biográficas, Mario Goloboff trabalhou nesta obra para construir um
arcabouço de informações até então pouco abordadas sobre a vida de Julio
Cotázar. No conjunto dos capítulos do livro, pode-se perceber que são abordadas
notas biográficas de diferentes níveis e aspectos, pincelando as ações
políticas, sociais e literárias desse grande gênio do século XX. A partir de
uma ampla pesquisa, o livro traz à luz aspectos menos conhecidos desse autor
magistral”.
Um desses aspectos a que se refere Siqueira é
o mergulho de Cortázar na vivência política, movido pela compaixão pela
humanidade. Tal humanidade é sintetizada numa epígrafe de Juan Rulfo, na
introdução do livro: “Tem um coração tão grande que Deus precisou fabricar um
corpo também tão grande para acomodar esse seu coração”.
Para a diretora editorial da DSOP, Simone
Paulino, publicar o livro representou um delicioso desafio: “Meu primeiro
contato com essa biografia do Cortázar aconteceu na Feira do Livro de Buenos
Aires, no início do ano. Tivemos que juntar muitos esforços para ter a obra
pronta no aniversário dele, mas valeu a pena”, conta. “Embora despretensioso, é
um livro que contribuiu a um só tempo tanto para a fortuna crítica do autor,
sendo, portanto, uma leitura bastante recomendável para pesquisadores da sua
obra, quanto para o leitor comum, apaixonado pela figura enigmática do criador
dos cronópios, famas e esperanças”, completou Simone.
Notas biográficas
Julio Cortázar deu vida à literatura argentina
com textos carregados de realismo e sensibilidade excessiva. Era um homem
bondoso, de coração grande, pessoa justa, diziam os seus próximos. Lutou por
justiça, e se sacrificou por ela. Ele escrevia sobre a beleza da vida, apesar
da tristeza, sofrimento, angústia e desesperança que lhe cabiam. Era um leitor
voraz. Para tirar o menino do quarto era preciso severidade. Ele deixava de
comer para ler, era doente por leitura, por isso não era de se admirar que
tivesse uma vida escolar brilhante, sempre um dos melhores alunos da classe.
Sofria de asma, bronquite, mas a paixão e fixação pelos livros era o que lhe
trazia luz e a cura de todos os problemas de sua vida.
Filho de argentinos, Julio Cortázar nasceu na
embaixada da Argentina em Ixelles, na Bélgica, e foi para seu país de sangue
aos quatro anos de idade, onde se formou professor em Letras em 1935 e viveu
até os 37 anos, quando se mudou permanentemente para Paris, na França. Ele
viveu na capital francesa com dificuldades financeiras até receber o convite da
Universidade de Porto Rico para fazer a tradução da obra completa, em prosa, do
escritor Edgar Allan Poe. Essa foi considerada pelos críticos a melhor tradução
já feita da obra do grande novelista inglês.
Foi em Paris que Cortázar escreveu a maioria
de seus livros, entre contos, novelas e poemas, incluindo seus grandes sucessos O Jogo da
Amarelinha (1963)
e Histórias
de Cronópios e de Famas (1962). Neste último, o escritor argentino
reinventa o mundo com seus personagens, os cronópios, as famas e as esperanças,
que servem como tradutores da psicologia humana. Em O Jogo da
Amarelinha, seu maior sucesso de vendas, o autor transpõe
brilhantemente os limites da literatura convencional com uma história que pode
ser lida de várias formas. Se lida linearmente, a história tem um sentido. Se
lida salteadamente, como o próprio autor sugere, o sentido é outro.
Um de seus contos chamado As Babas
do Diabo, presente em seu livro As Armas
Secretas, foi inspiração para Blow-Up (Depois
Daquele Beijo), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni. O
filme ganhou o prêmio Grand Prix do Festival de Cinema de Cannes de 1966 e teve
indicações ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA, além de ter sido referência
para vários outros filmes posteriormente.
Julio Cortázar foi também muito envolvido com
a política, mais veementemente após uma viagem a Cuba no ano de 1963, e se
comprometeu politicamente grande parte de sua vida com a libertação dos países
da América Latina que sofriam com regimes ditatoriais.
Em 1982, sua última esposa faleceu e Cortázar,
que tinha a saúde debilitada há algum tempo, entrou numa depressão profunda. No
ano seguinte, ainda viveu uma experiência muito simbólica quando visitou sua
Argentina já recuperada para a democracia e pôde rever lugares e amigos pela
última vez. Foi inclusive reconhecido na rua por populares como o grande gênio
da literatura que era. Cortázar morreu em 1984 de leucemia e foi enterrado no
cemitério de Montparnasse, onde se ergue, acima de sua tumba, um de seus mais
inesquecíveis personagens, o cronópio. "Tua sombra
espera atrás de toda luz.” – Cortázar