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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Chumbo Quente: População não acredita nos políticos nem na imprensa



Ali, durante quase meio século, senti na pele o desprezo da classe política



Luís Alberto Alves/Hourpress

Pesquisa recente CNT/MDA apontou que o brasileiro confia, em grande maioria, nos bombeiros, igreja e Forças Armadas. De 100%, os partidos políticos e imprensa ficaram com 2,3% e 0,2% de confiança do povo, respectivamente.

Qual a razão disto? Intelectuais dirão que este dado reflete a “burrice” da população. Discordo! Quem enfrenta ônibus lotado, metrô ou trem; recebe péssimos salários e moram, em grande parte afastada dos grandes centros, onde falta infraestrutura, sabe do que fala.

Durante quase 50 anos de minha vida tive casa a cerca de 30 quilômetros do Centro de SP. Conheço a dificuldade de enfrentar ônibus lotado de manhã e de noite, no retorno do trabalho. Quando doente, sofrer na fila dos hospitais públicos, totalmente sucateados.

Periferia
Quantas vezes ouvia conversa fiada de políticos prometendo asfaltar a rua onde passei minha infância, adolescência e juventude. A escola pública caindo os pedaços, sem professores; postos de saúde carente de funcionários. Enfim, era periferia. O povo que se lixe!

Ali, durante quase meio século, senti na pele o desprezo da classe política. Os grandes jornais da época (Jornal da Tarde, Diário Popular, Folha da Tarde, Notícias Populares, Estadão) só lembravam-se daquele pedaço da Zona Norte de SP, quando a pauta era sobre crime.

Hoje, com 33 anos de jornalismo, ainda custo a entender o motivo de só tragédia virar notícia. O povo, na sua sabedoria, também gosta de alegria. Aliás, o pobre não vai de roupa suja batizar o filho, ou mesmo a um culto religioso. Gosta que as pessoas da cidade os vejam com outros olhos.

Democracia
É neste quesito o olhar clínico sobre a imprensa. Como vai merecer confiança algo que só valoriza o lado podre da vida? O pobre gosta de democracia, mas se vier sem comida sobre a mesa, não vale nada. Certa vez, numa entrevista, uma faxineira me respondeu: “moço, democracia se come”?

Por outro lado, o povo admira muito os bombeiros, segundo os dados da pesquisa da CNT/MDA. Simples! A qualquer hora da noite ou dia, eles prestam socorro a quem o Poder Público trata igual pária. Às vezes até parto realizam, dependendo da situação.

Apesar de muitos vendilhões da fé, a igreja aparece em segundo lugar como instituição confiável. Essa informação não pode ser interpretada como ignorância. Quando tudo parece ruir debaixo dos pés, a população procura ajuda divina.

Periferia
Mas qual a razão disto tudo. Após 21 anos de Regime Militar, a nossa classe política ainda não soube valorizar a democracia. Temos um Congresso Nacional horrível. Preocupado apenas na votação de leis prejudiciais ao eleitor. Prova disto é a Reforma Trabalhista, onde os beneficiados foram os empresários.

Não temos políticos interessados no bem-estar da população, apenas na conta bancária. Seja de direita, esquerda ou centro; a mesma sacanagem se faz presente. Só quem sofre na pele a dor de receber um salário de miséria, e obter poucos benefícios do governo, e se equilibrar na corda bamba para continuar vivendo, sabe o que é morar na periferia.

O mundo é bonito na televisão, assim como nas revistas que exibem as festas da elite. Também no Congresso Nacional, onde se trabalha pouco e se ganha muito. Agora, no Brasil real, onde o crime organizado dá as cartas e existe pouca presença do Estado, o buraco é mais embaixo.


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