O excesso de conectividade pode impactar, diretamente, o equilíbrio entre o pessoal e profissional
Bárbara
Nogueira
O uso
da tecnologia tem se apresentado como imprescindível nos últimos meses, após o
avanço da pandemia do novo coronavírus e a necessidade de isolamento social.
Somente por meio dela, foi possível viabilizar o home office para
milhares de profissionais em todo o mundo, além do contato com pessoas
queridas. Por outro lado, essa nova realidade provocou um crescimento exponencial
da conectividade e do uso de mídias eletrônicas. Situação que, se não for bem
gerenciada pelos próprios indivíduos e pelas empresas, pode comprometer – e
muito – a produtividade no trabalho e provocar transtornos físicos e
emocionais. São consequências do chamado tecnoestresse.
O termo é entendido como o vínculo psicológico negativo entre as
pessoas e a introdução de tecnologias. Trata-se de uma doença moderna, de
adaptação, causada por uma incapacidade de lidar com todas as ferramentas da
informática de forma saudável. Na realidade, o problema já tinha uma curva
ascendente nos últimos anos, porém se tornou mais frequente agora. A primeira
explicação é que os profissionais passaram conviver com um bombardeio ainda
maior de informações recebidas por diferentes canais, como e-mails, mensagens
diretas no celular e redes sociais, sendo que, em geral, as respostas são
cobradas quase que imediatamente. O segundo aspecto é a ausência de “válvulas
de escape” para se desconectar do mundo digital, por exemplo, a vida social
ativa, exercícios ao ar livre, passeios, viagens, entre outras.
Nesse contexto, o excesso de conectividade pode impactar,
diretamente, o equilíbrio entre o pessoal e profissional. Na prática, acarreta
cansaço, prejuízo do sono, do desempenho no trabalho – com a dificuldade de
concentração – e da saúde mental. Em médio prazo, é possível ocorrer o
comprometimento psíquico além do esperado, gerando estresse agudo, ansiedade,
pânico, depressão, entre outros transtornos. Diante disso, a exposição ao ambiente
digital exige adaptações dos hábitos e da rotina das pessoas, para que possam
usufruir da tecnologia de modo positivo. Afinal, o grande vilão é o exagero.
Portanto, as pessoas precisam estar atentas e buscar
alternativas para evitar o “tecnoestresse”. A principal dica é criar uma rotina
organizada durante o dia, com o estabelecimento do horário de trabalho e do uso
de telas; o tempo para o lazer e a diversão off-line, procurando usar a
criatividade; e o momento dedicado à família. Além disso, é importante manter
uma regularidade de sono, garantir a prática de exercícios físicos, e buscar
uma comunicação mais próxima e constante com as outras pessoas. Outra dica é
criar o hábito de se levantar da cadeira com frequência para esticar o corpo,
se alongar, se hidratar e se alimentar bem. Ou seja, atitudes simples podem
mudar a sua realidade.
Por parte das organizações, é fundamental que os líderes
atuem muito próximos de seus times, orientando e monitorando os subordinados, a
fim de assegurar um período para a desconexão. Esse acompanhamento é essencial
para que qualquer intervenção necessária aconteça no tempo adequado. Cabe
também às lideranças respeitar a vida pessoal dos colaboradores, estabelecer
limites para a distribuição das demandas e não pressionar por respostas
imediatas, caso eles estejam fora do horário de trabalho.
Vale lembrar que, mesmo no mundo disruptivo, saúde mental é
vital em qualquer momento, tanto durante o isolamento social, quanto no
pós-pandemia, quando muitas empresas adotarão o modelo de trabalho híbrido
(presencial e remoto). Dessa forma, todos devem investir em estratégias que
possibilitem o equilíbrio das funções psíquicas, para que o tempo em home office seja mais
saudável, feliz e produtivo tanto para o profissional quanto para alcançar as
expectativas de resultados das companhias.
* Bárbara Nogueira Graduada em Psicologia, Bárbara Nogueira é diretora, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos de média e alta gestão, que atua em todos os setores da economia na América Latina.