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Radiografia da Notícia
* Nova série da Netflix reacende o debate sobre a masculinidade tóxica e o papel essencial do pai na formação emocional dos filhos
* Pediatra da SBP alerta: “Para ser pai, é preciso participar”
* Mas o roteiro vai além do suspense e convida o público a refletir sobre as pressões
Redação/Hourpress
A recente minissérie britânica Adolescência, da Netflix, tem causado alvoroço nas redes ao tocar em feridas profundas: a masculinidade tóxica, o impacto das redes sociais e, principalmente, o relacionamento entre pais e filhos. Na trama, o jovem Jamie, de 13 anos, é acusado de um crime brutal contra uma colega de escola. Mas o roteiro vai além do suspense e convida o público a refletir sobre as pressões, os vazios e as referências distorcidas que moldam os adolescentes de hoje.
Para o pediatra e pai Dr. Paulo Telles, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o alerta vai além da ficção. “Para ser pai, é preciso participar. O que a série mostra de forma dramática é o que já vemos em dados e na prática clínica: a falta de envolvimento paterno tem impactos emocionais, sociais e até econômicos.”
Segundo o pediatra, ainda vivemos em uma sociedade que atribui à mulher, muitas vezes, a total responsabilidade pelos cuidados e educação dos filhos, deixando o pai com um papel de “ajudante” ou apenas provedor financeiro. “Em 2023, mais de 172 mil crianças nasceram no Brasil sem o nome do pai no registro. Estamos em 2025 e ainda precisamos afirmar o óbvio: ser pai não deveria ser opcional, nem se limitar a oferecer sustento. A criação e a educação dos filhos devem ser responsabilidades compartilhadas, e é fundamental que os homens compreendam seu papel como pais, que vai muito além do apoio financeiro”, reforçou.
Sociais
Estudos já comprovam que a paternidade ativa está diretamente relacionada a melhores indicadores de desenvolvimento cognitivo, saúde mental e desempenho escolar. Crianças com pais participativos apresentam menos problemas de comportamento, maior autoestima, maior empatia e melhores habilidades sociais.
“Além disso, pais presentes impactam positivamente a economia. Menos evasão escolar, menos delinquência juvenil, menos gastos com saúde mental e assistência social. É um investimento com retorno certo, como já apontou até o prêmio Nobel James Heckman”, diz Dr. Paulo Telles.
Licença-paternidade
Enquanto países como Suécia oferecem até 480 dias de licença parental compartilhada, o Brasil ainda engatinha. Ampliar esse tempo não é apenas uma questão de justiça familiar, mas de inteligência social e econômica. “O custo de ampliar a licença para 20 dias seria de R$ 99 milhões, uma fração mínima da arrecadação federal. O custo da omissão é muito maior”, alertou o pediatra.
Para Dr. Paulo Telles, o ponto principal é entender que o pai não nasce pronto. “É no cuidado, na troca de fralda, no colo de madrugada e nas consultas pediátricas que um pai vai se formando. E os ganhos são mútuos. Pais também têm alterações cerebrais positivas quando participam ativamente da criação dos filhos. Eles crescem junto com seus filhos.”
O recado que a série Adolescência dá, mesmo sem dizer diretamente, é claro: quando os pais não participam, o mundo (real ou ficcional) pode pagar um preço alto demais.