Apesar de ser uma das doenças mais incapacitantes do planeta, a enxaqueca ainda não recebe a devida atenção e tratamento
Em 22 de julho, é celebrado o Dia Mundial do Cérebro. A data que é uma iniciativa da World Federation of Neurology e da International Headache Society conta com o apoio da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e tem por objetivo informar a população sobre as doenças neurológicas, bem como chamar a atenção à sua prevalência e seus impactos no cérebro. Em 2019, sob o slogan “A Verdade Dolorosa”, a campanha procura promover conscientização sobre a patologia cerebral mais comum no mundo: a migrânea, popularmente conhecida como enxaqueca.
Apesar de ainda muito subestimado, atualmente, este mal acomete uma em cada sete pessoas no planeta, possuindo amplo impacto e figurando como uma das principais causas de incapacidade no mundo. Para o dr. Fernando Kowacs, membro titular e coordenador do Departamento Científico de Cefaleia da ABN e professor adjunto de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, a ação da Federação Mundial de Neurologia é de extrema importância uma vez que cria um alerta tanto ao público leigo quanto aos profissionais.
“A enxaqueca é uma doença neurológica de causa genética que, apesar de não causar a morte ou sequelas físicas, é muito frequente e atinge as pessoas na fase de adulto-jovem, que pode ser considerada a mais produtiva. Nesse estágio da vida, muitas estão constituindo família, crescendo profissionalmente e têm muitas responsabilidades. A doença incapacita de tal forma que pacientes que sofrem com ela podem perder vários dias úteis com crises que, além da dor de cabeça intensa, são caracterizadas por outros sintomas, como náuseas e intolerância à luz, sons e até odores”, explica Kowacs, que também é coordenador do Núcleo de Cefaleia do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento e Doutor em Medicina pela UFRGS.
Hoje, a patologia já é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a sexta causa de incapacidade por doença entre os adultos de todas as faixas etárias. Porém, entre os adultos jovens, ela ocupa um lugar ainda mais relevante.
“A enxaqueca ainda é pouco valorizada pela sociedade, pelos familiares, pelos empregadores e até por quem sofre com ela. Existem estudos que mostram que uma parte considerável das pessoas que mereceriam tratamentos preventivos não o recebe mesmo em países desenvolvidos. De qualquer forma, é fundamental termos em mente que ela é uma doença que causa prejuízos em diversos âmbitos; os pacientes têm uma carga grande de sofrimento e acabam tendo reflexos negativos na vida pessoal, social e profissional”, conta dr. Fernando.
Ele ressalta, no entanto, que importantes avanços no entendimento dos mecanismos da enxaqueca têm levado a tratamentos mais eficazes e bem tolerados. No entanto, considera importante que ocorra uma maior conscientização sobre a doença, tanto por parte da população como dos profissionais, para que os pacientes possam receber o diagnóstico e o tratamento adequado, visando a melhora da sua qualidade de vida e evitando o tão prejudicial uso excessivo de analgésicos “balcão de farmácia”.