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O projeto prevê 20% das vagas em concursos públicos na administração federal para candidatos negros |
Luís Alberto Alves
A presidente Dilma Rousseff
sancionou nesta segunda-feira (9) projeto que prevê cota de 20% das vagas em
concursos públicos da administração federal para candidatos negros. A medida
vai valer pelo período de 10 anos, quando deverá passar por uma reavaliação. O
texto sancionado foi publicado na edição de ontem (10) do Diário Oficial da
União, quando a lei ganhará um número de identificação.
Pelo texto, os candidatos deverão
se declarar negros ou pardos no ato da inscrição do concurso, conforme o
quesito de cor ou raça usado pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Declarações falsas serão punidas. As
sanções vão da eliminação do concurso à anulação do processo de admissão ao
serviço ou emprego público do candidato que fraudar os dados.
A reserva de cotas é válida
somente em concursos públicos que disponibilizem mais de três vagas e não se
aplicará aos concursos com editais publicados antes da vigência da lei (10 de
junho). O texto também determina que os editais terão de informar expressamente
o total de vagas correspondentes à cota para cada cargo ou emprego público
oferecido.
Críticas
A lei de cotas no serviço público
tem origem em proposta de iniciativa do governo, que dividiu opiniões durante a tramitação no Congresso.
Em março, durante as discussões e aprovação no Plenário da Câmara, o deputado Jair
Bolsonaro (PP-RJ) não poupou críticas, o que provocou reações do público que
lotava as galerias.
"Nós temos um projeto
racista, separatista, imoral e que gera ódio”, afirmou o parlamentar, sob vaias
do Plenário. “Eu já conheço o PT. Dividir para governar. Só podia ser de autoria
desta presidenta da República. Se eu morrer hoje junto com outro parlamentar
negro aqui, vamos chegar lá, na porta do céu, e São Pedro vai falar o quê? Vai
para o céu o negro na cota, o Bolsonaro vai ficar na fila um pouquinho mais.
Tem cota para entrar no céu?"
Ação afirmativa
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ)
rebateu. Segundo ela, ao apresentar a proposta, a presidente Dilma deu um
exemplo. "Eu sou uma negra. Não vou fazer nenhum discurso técnico. Eu
quero apenas falar do sentimento de nós, negros, maioria neste País”, observou.
“Quando nós temos apenas uma ação afirmativa, serve de alvo de chacota e
desconhecimento total do que a nossa Constituição garante para o nosso povo,
assim como para o povo indígena."
Administração federal
Relator da proposta na Comissão de
Constituição e Justiça, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) comemorou a
sanção. Ele lembrou que a lei de cotas tem validade apenas para disputa de
vagas na administração federal e que os demais poderes e governos estaduais que
ainda não adotaram a medida deveriam seguir o mesmo caminho.
"Eu sou de um estado que é
pioneiro na lei das cotas, o estado do Rio de Janeiro, um dos primeiros a
implantar tanto lei de cotas no acesso a universidades como cotas no serviço
público”, lembrou o deputado. “Creio que este exemplo deve ser levado a um
número maior de estados e que o Poder Judiciário e que a Câmara dos Deputados
devem seguir este exemplo."
No Senado
A reserva de cotas já está em vigor no Senado desde o mês passado, quando foi
aprovada resolução que garante para negros e pardos 20% das vagas em concurso
público e em contratos terceirizados de mão de obra na Casa.